A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) reagiram com forte desaprovação ao aumento da taxa Selic em um ponto percentual, elevando-a para 13,25% ao ano (a.a.). Para ambas as entidades, a decisão do Banco Central de manter a política de juros elevados é um reflexo de uma cultura histórica de juros altos no Brasil, e não leva em consideração os impactos econômicos do cenário atual.
Segundo o presidente da CNI, Ricardo Alban, a elevação da taxa de juros não se justifica diante das condições econômicas atuais. “O Banco Central continua a fazer uma leitura equivocada da realidade econômica do país, especialmente no que diz respeito à desaceleração da atividade e ao quadro fiscal. A alta de juros não parece ser a solução para os problemas que enfrentamos no momento”, afirmou Alban.
As entidades defendem um pacto nacional que envolva todos os Poderes, empresários e trabalhadores, para a criação de um consenso em torno de metas fiscais e políticas econômicas estruturantes. O objetivo seria garantir estímulos seletivos à economia, com foco em inovação, infraestrutura, educação e tecnologia, ao mesmo tempo em que se busca o equilíbrio das contas públicas e o controle da inflação.
Com o novo aumento, a taxa de juros real do Brasil chega a 7,8% ao ano, 2,8 pontos percentuais acima da taxa neutra de 5% a.a., estimada pelo Banco Central. Isso indica que a política monetária segue restritiva, o que tem efeitos diretos sobre o custo do crédito e sobre a atividade econômica. Vale lembrar que desde fevereiro de 2022, o Brasil adotou uma política monetária contracionista.
As entidades industriais alertam que a decisão não leva em conta a desaceleração do crescimento econômico observada desde o segundo semestre de 2024, que se manteve também no último trimestre do ano. De acordo com dados da CNI, a produção industrial brasileira caiu 0,6% em novembro de 2024 em comparação com o mês anterior, sendo esse o segundo mês consecutivo de queda. O varejo também enfrentou uma retração de 1,8% em novembro, revertendo o crescimento registrado no mês anterior. Nos serviços, houve um recuo de 0,9% no mesmo período.
A redução da atividade econômica tem se mostrado uma preocupação central para os setores produtivos, que temem que os altos juros resultem em custos financeiros mais elevados para empresas e consumidores, além de impactar negativamente o mercado de trabalho, gerando perda de empregos e renda.
De acordo com a CNI, o cenário fiscal também precisa ser considerado com mais atenção. A previsão é de que a meta de resultado primário seja cumprida em 2024, ainda que no limite inferior, o que dependeria de um contingenciamento de R$ 4,2 bilhões. A organização também projeta que a meta será cumprida em 2025, levando em conta a desaceleração do crescimento das despesas públicas, que deve ficar em 2,3% neste ano, uma redução significativa em comparação ao crescimento de 4% registrado em 2024.
Além disso, a CNI e a Findes apontam que o governo federal já se comprometeu a ampliar o pacote fiscal neste ano, o que poderia aliviar a pressão sobre a economia. No entanto, ambas as entidades defendem que o equilíbrio fiscal não pode ser alcançado à custa de um endurecimento excessivo da política monetária, que, para elas, já se mostrou ineficaz diante do cenário atual de desaceleração econômica.