O Espírito Santo está vivenciando uma das mais severas estiagens dos últimos anos, com todos os 78 municípios enfrentando algum nível de seca. A recente análise do Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), divulgada em 24 de julho, coloca o estado entre os mais afetados do país, ao lado de estados como Amazonas, Acre, Mato Grosso do Sul e São Paulo.
O quadro de seca é dividido em quatro categorias: extrema, severa, moderada e fraca. No Espírito Santo, a situação é crítica com seis cidades classificadas como em seca severa, 51 em seca moderada e 21 em seca fraca. O Brasil, em geral, tem 1.024 cidades em condições de seca extrema ou severa, um aumento alarmante de quase 23 vezes em relação ao ano anterior. Este quadro está diretamente ligado ao aumento significativo das queimadas, registrando o maior número de incêndios florestais dos últimos dez anos.
“A principal causa dos incêndios florestais no Brasil é a ação humana. É imperativo que adotemos medidas de conscientização e mobilização para evitar que atitudes irresponsáveis piorem ainda mais a situação. A participação ativa da sociedade é crucial para a preservação das nossas matas e para a segurança hídrica e alimentar”, ressalta Maisa Porto, diretora do Ideias.
Entre janeiro e maio deste ano, o Espírito Santo perdeu 1.587 hectares de mata nativa devido a queimadas, um aumento impressionante de 118% em relação ao mesmo período do ano passado. Além dos danos ambientais, a seca está prejudicando o abastecimento de água e impactando a produção agrícola, gerando prejuízos significativos nas safras de café, leite e derivados.
Com a chegada do inverno, que costuma ser mais seco, o número de queimadas tende a crescer. As regiões mais afetadas no estado estão no Norte, principalmente em Linhares e São Mateus. O MapBiomas Fogo, que monitora queimadas por satélites, confirma o aumento considerável das queimadas nessas áreas.
Para enfrentar essa crise, é necessário adotar uma abordagem abrangente que combine investimentos em equipamentos e treinamento para combate a incêndios com ações preventivas. “É crucial fortalecer a prevenção através da criação de brigadas comunitárias e campanhas educativas. A recuperação de áreas degradadas e a implementação de práticas sustentáveis também são fundamentais para aumentar a resiliência dos ecossistemas e reduzir o risco de incêndios”, destaca Maisa Porto.
O Corpo de Bombeiros do Espírito Santo também registrou um aumento significativo nos incêndios combatidos, com 786 focos de janeiro a maio deste ano, comparado a 601 no mesmo período do ano passado.
Mudança Climática e Incêndios Florestais
As mudanças climáticas são um fator crucial no agravamento dos incêndios florestais. Ondas de calor extremo estão cinco vezes mais frequentes hoje do que há 150 anos e devem se tornar ainda mais comuns com o aquecimento global. “Temperaturas mais elevadas secam a paisagem, criando condições ideais para incêndios maiores e mais frequentes. Esses incêndios, por sua vez, intensificam as emissões de carbono, perpetuando um ciclo vicioso de mudança climática”, explica Maisa.
A expansão das atividades humanas em áreas florestais também contribui para o aumento dos incêndios. A prática comum de usar fogo para limpar terras para pastagens ou agricultura após o desmatamento pode se espalhar para florestas adjacentes durante períodos de seca. Estudos indicam que quase todos os incêndios nos trópicos são causados por atividades humanas e não por fontes naturais, como raios, e são exacerbados por condições secas e quentes.
A perda de cobertura arbórea causada pelos incêndios na Amazônia brasileira, por exemplo, contribui para um aumento nas emissões de carbono. Em alguns anos, os incêndios florestais foram responsáveis por mais da metade de todas as emissões de carbono na região, indicando que a Bacia Amazônica pode estar se transformando em uma fonte líquida de carbono.
O cenário atual exige uma ação coordenada e eficaz para mitigar os impactos da seca e das queimadas, envolvendo tanto o poder público quanto a sociedade. A preservação ambiental e a gestão sustentável dos recursos naturais são essenciais para garantir um futuro mais seguro e equilibrado para todos.