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Maio Amarelo: reabilitação no ES expõe impacto dos acidentes de trânsito

CREFES em destaque no Maio Amarelo: reabilitação no Espírito Santo expõe impacto dos acidentes de trânsito na saúde pública

Maio chega com uma cor de alerta. O amarelo toma conta de ruas, campanhas e instituições como símbolo de um movimento que vai além da segurança viária: o Maio Amarelo. Criado para chamar atenção ao elevado número de mortes e feridos no trânsito, o movimento também escancara um problema de saúde pública. No Espírito Santo, a gravidade da questão é refletida nos corredores do Centro de Reabilitação Física do Espírito Santo (CREFES), onde vítimas de acidentes lutam diariamente para retomar suas vidas.

Habilitado como Centro Especializado em Reabilitação nas modalidades Física e Auditiva pelo Ministério da Saúde, o CREFES é a principal referência do SUS no estado para o atendimento a pessoas com deficiências físicas. Entre os pacientes, o maior contingente é de jovens homens que sofreram traumas em acidentes de trânsito — sobretudo com motocicletas.

“Os acidentes de trânsito representam uma das principais causas de incapacidade física que acompanhamos. A demanda é majoritariamente de jovens do sexo masculino, com lesões graves, muitas vezes permanentes, principalmente em decorrência de colisões e atropelamentos envolvendo motocicletas”, afirma a diretora-geral do CREFES, Adriana Vidal.

Segundo dados da Secretaria da Saúde do Espírito Santo, em 2024 foram registradas 7.386 internações por acidentes de trânsito na rede pública estadual. Destas, 69% envolveram motociclistas. Jovens entre 20 e 29 anos corresponderam a quase 27% do total. A maioria dos internados (77%) era do sexo masculino.

Depois da alta hospitalar, muitos desses pacientes seguem um longo processo de reabilitação no CREFES. Ali, equipes interdisciplinares com fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogos e outros profissionais oferecem atendimento especializado, que pode incluir a prescrição e entrega de órteses, próteses e meios auxiliares de locomoção.

“Nosso foco é oferecer um tratamento individualizado, baseado em evidências e centrado no paciente. O objetivo é garantir funcionalidade, autonomia e qualidade de vida”, explica Adriana. “Após a alta no CREFES, o acompanhamento continua na Atenção Primária, em articulação com os municípios.”

Entre os muitos que enfrentam esse caminho está Jefferson Delai da Rocha, de 30 anos, morador de Itarana. Ele sofreu um acidente de moto em 2022 e quase precisou amputar a perna esquerda devido à grande perda óssea. Hoje, caminha para uma vitória pessoal: a alta definitiva do CREFES está marcada para 3 de junho.

“Quando cheguei aqui, ouvi de muita gente que eu não voltaria a andar. Mas o Paulo, meu fisioterapeuta, nunca desistiu de mim. Hoje, estou andando sem muleta e com uma gratidão imensa pela equipe que me acompanhou em cada etapa”, conta Jefferson emocionado.

Os dados mais recentes, de 2025 (até fevereiro), reforçam o padrão observado nos últimos anos. Das 519 internações por acidentes de trânsito já registradas, 62,6% envolveram motociclistas. Homens seguem como maioria esmagadora (76%) e a faixa etária mais afetada continua sendo a dos jovens adultos.

O número de óbitos também assusta. Em 2024, o Espírito Santo registrou 964 mortes no trânsito. Quase metade das vítimas fatais eram motociclistas. O recorte de gênero e faixa etária é igualmente alarmante: 82,5% dos mortos eram homens, sendo que 21% tinham entre 20 e 29 anos.

Diante desse cenário, o Maio Amarelo propõe uma reflexão urgente. Em 2025, a campanha nacional tem como tema “Desacelere. Seu bem maior é a vida.” A ideia é estimular atitudes mais responsáveis no trânsito e frear uma estatística que machuca famílias e sobrecarrega o sistema de saúde.

“O trânsito não é só um tema para motoristas. É uma questão de saúde pública, de cidadania e de empatia”, conclui Adriana Vidal. “Cada acidente evitado representa uma vida preservada e um futuro que continua em movimento.”

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