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Leão XIV: O Mais Novo Papa

Em uma semana marcada por expectativa, emoção e surpresa, a Praça São Pedro viveu um momento histórico. Após pouco mais de uma hora de espera, a fumaça branca sinalizou ao mundo: Habemus Papam. O cardeal protodiácono, Dominic Manber, anunciou em latim a eleição de um novo líder para a Igreja Católica: o norte-americano Robert Francis Prevost, agora Papa Leão XIV.

Foi um anúncio surpreendente. Prevost é o primeiro papa norte-americano da história, e apenas o quarto não italiano desde João Paulo II. Conhecido por seu trabalho missionário no Peru, Leão XIV é considerado “o menos americano entre os americanos”, segundo o próprio Vaticano, devido aos mais de 20 anos vividos na América Latina.

Da sacada da Basílica de São Pedro, suas primeiras palavras ao mundo foram um desejo de paz e união. Ele prometeu dar continuidade à missão de Francisco, com uma liderança “corajosa e colaborativa”. Em seu discurso, convocou os fiéis a “construir pontes, não muros”, e reforçou sua visão de uma Igreja missionária, próxima dos que mais sofrem.

Mais de 150 mil pessoas acompanharam a celebração na praça. Com sinos e lágrimas, os fiéis receberam com entusiasmo o novo papa. A escolha do nome “Leão” ainda não foi explicada oficialmente, mas evoca os papas reformistas que o antecederam — em especial Leão XIII, autor da histórica encíclica Rerum Novarum, que defendeu os direitos dos trabalhadores na virada do século XIX para o XX.

Leão XIV foi cumprimentado pelos cardeais em uma cerimônia privada cujas imagens raras foram divulgadas pelo Vaticano. Após uma oração solitária, ele voltou à sacada para sua primeira bênção apostólica. Assim se repetiu a máxima romana: “Quem entra Papa, sai cardeal”.

Robert Francis Prevost nasceu em setembro de 1955, no subúrbio sul de Chicago. Filho de uma bibliotecária de ascendência espanhola e de um professor com raízes francesas e italianas, cresceu em uma família profundamente católica. Frequentava missas diárias e foi coroinha antes de ingressar no seminário.

Formado em Matemática na Universidade de Villanova, iniciou os estudos em Teologia ainda jovem. Foi ordenado padre em 1982 e, três anos depois, foi enviado ao Peru, onde sua trajetória mudaria para sempre. Viveu e trabalhou em regiões pobres do país andino e foi testemunha do regime autoritário de Alberto Fujimori.

Naturalizado peruano em 2015, foi nomeado bispo de Chiclayo e se destacou pela postura pastoral e próxima do povo. Em 2023, foi convocado por Francisco ao Vaticano para comandar o Dicastério para os Bispos — órgão que avalia a nomeação de novos bispos em todo o mundo. No mesmo ano, tornou-se cardeal.

Apesar de sua trajetória social e missionária, Prevost tem posições mais conservadoras nos costumes. Em 2012, se manifestou contra o que chamou de “simpatia por estilos de vida contrários ao Evangelho”, como casais do mesmo sexo com filhos adotados. Também se opôs a políticas de gênero nas escolas peruanas.

Essas posturas podem ter sido decisivas para conquistar votos de setores mais conservadores do Colégio de Cardeais, preocupados com o ritmo das reformas de Francisco.

Leão XIV assume o papado em um momento-chave: liderará a Igreja durante o Jubileu da Esperança, previsto para 2025. Seus desafios incluem conciliar as reformas iniciadas por seu antecessor com uma Igreja cada vez mais dividida entre tradição e renovação.

Nos Estados Unidos, onde apenas 20% da população se declara católica, sua eleição causou surpresa e celebração. Com forte influência de Santo Agostinho, seu lema episcopal é um apelo à unidade: “Embora sejamos muitos, em Cristo somos um.”

De “Bob”, o jovem coroinha de Chicago, a bispo peruano e agora Papa Leão XIV, sua trajetória representa uma nova etapa para a Igreja: uma ponte entre o Norte e o Sul, entre o poder e o povo.

Da Redação

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