O traçado que o pincel percorre na folha em branco é mais que uma obra de arte criando vida. Para as catorze crianças da Casa de Acolhimento Provisório de Viana, essa atividade se torna uma forma única de expressar seus sentimentos, seja através das formas dos desenhos, dos símbolos ou até mesmo da escolha das cores que preenchem o pequeno pedaço de papel.
Após tomarem forma, as obras revelam os segredos de cada criança: a família reunida, uma criança soltando pipa, uma paisagem colorida, ou até mesmo a transcrição daquilo que foi ensinado minutos antes. Por trás de cada pincelada, se esconde uma história que pode indicar o surgimento de novos artistas, cujas habilidades estão sendo lapidadas no processo.
Esses pequenos artistas, que vivem temporariamente no lar, são meninos de até 12 anos e meninas de até 18 anos que, por decisão judicial, foram afastados de suas famílias devido a experiências de violência física ou psicológica, entre outros traumas. No ambiente acolhedor da Casa, recebem o apoio necessário de profissionais para superarem esses desafios e conquistarem o que toda criança merece: amor e afeto.
A arte vai além do simples fazer artístico. Ela ganha um novo significado quando observada sob outra perspectiva, como nos ensinamentos compartilhados por Neusa Ramos Barbosa, artista plástica e visual, que, apesar de estar resgatada e morando no Instituto de Longa Permanência para Idosos (ILPI), participou da ação como professora. Neusa ensinou às crianças não só as técnicas que utiliza em suas obras, mas também o valor da autonomia, um dos pilares fundamentais do projeto.
Enquanto as crianças aprendem a pintar e desenhar, a artista as incentiva a descobrir e expressar suas emoções por meio da arte. O simples ato de segurar o pincel torna-se uma ferramenta poderosa para o autoconhecimento e a independência. Nesse ambiente, a arte se transforma em um meio de cura e libertação.
Além disso, as crianças e seus familiares recebem acompanhamento de uma equipe multidisciplinar, composta por psicólogos e assistentes sociais, que atuam para proporcionar o suporte necessário ao processo de reconfiguração da unidade familiar. O objetivo é gerar uma transformação social e emocional que, aos poucos, vai reconectando as crianças com seus pais, e permitindo que as famílias sejam reunidas novamente.
Essa oficina de arte faz parte de um conjunto de ações desenvolvidas na Casa de Acolhimento que incluem lazer, afetividade e oportunidades para que as crianças expressem seus sentimentos de forma lúdica e terapêutica. Os profissionais acompanham de perto o desenvolvimento de cada criança, observando não apenas a evolução na pintura e nos desenhos, mas também a forma como elas se comunicam sem palavras, por meio de gestos e expressões corporais.
Esse projeto é uma parceria da Prefeitura de Viana, através da Secretaria de Assistência Social, com a Agência Adventista de Desenvolvimento de Recursos Assistenciais (ADRA), e visa promover o bem-estar emocional e psicológico das crianças e adolescentes acolhidos, ao mesmo tempo em que busca criar um ambiente mais saudável e acolhedor para todos os envolvidos.
Foto: Victor Andrade