Mestras e Mestres Conversam com Crianças e Adolescentes sobre Cultura, Memória e Tradições Populares
Projeto promove encontros para fortalecer a Festa de São Benedito e as manifestações culturais capixabas
A cultura popular capixaba ganhou um importante reforço este mês com o início de uma série de encontros entre mestras, mestres e jovens de Vitória. As reuniões fazem parte do projeto que visa valorizar, preservar e fortalecer as tradições culturais da região, especialmente as ligadas à Festa de São Benedito, uma das manifestações mais emblemáticas do Espírito Santo.
O projeto, contemplado pelo Edital Patrimônio Vivo da Secretaria da Cultura (Secult-ES) e apoiado pela Lei Paulo Gustavo/Ministério da Cultura, será conduzido por membros da tradicional Banda de Congo Panela de Barro, de Goiabeiras, e pelo Instituto Marlin Azul. Em uma série de seis encontros, mestras e mestres dos saberes e fazeres populares irão dialogar com crianças e adolescentes do Centro de Atendimento às Crianças e Adolescentes (Caoca), localizados no bairro Maria Ortiz, em Vitória. As atividades acontecerão em novembro, nos dias 11, 12 e 13, e envolverão rodas de conversa, oficinas de experimentação e vivências musicais.
Durante os encontros, os congueiros e as cantadeiras compartilharão com os jovens a rica história do Congo, uma das manifestações mais antigas e representativas da cultura capixaba. “Vamos falar sobre o que é o Congo, como ele surgiu e sua relação com a Festa de São Benedito. Vamos mostrar aos jovens nossos instrumentos, contar nossas histórias de vida e nossa ligação com a comunidade”, explica um dos mestres congueiros que participará do projeto.
As cantadeiras, por sua vez, irão ensinar as tradicionais cantigas de roda e as toadas do Congo, passando adiante as memórias de devoção, alegria e resistência presentes nas letras. Segundo uma das mestras, essas cantigas são uma forma de “preservar a alma da nossa gente”. Elas contam as histórias de luta, fé e cotidiano da comunidade, além de manter viva a oralidade, um dos pilares da cultura popular.
Além de preservar a memória e ensinar as novas gerações sobre a festa, o projeto também irá apoiar os mestres e mestras na preparação das celebrações deste ano. Em dezembro, a comunidade de Goiabeiras se reunirá para celebrar a Festa de São Benedito, que conta com três momentos marcantes: a cortada (08/12), a puxada e fincada (25/12) e a retirada do mastro (Domingo de Páscoa). A festividade é uma tradição que remonta aos tempos da escravidão e envolve um ritual de devoção e agradecimento a São Benedito, com um simbolismo profundo para a comunidade capixaba.
A lenda local conta que, durante o período colonial, náufragos de um navio negreiro se agarraram a um mastro que os guiou até a costa, onde conseguiram se salvar. Como forma de agradecimento, os devotos passaram a homenagear São Benedito com uma celebração anual, cujo principal símbolo é o mastro que, desde então, é erguido e retirado com grande devoção.
O projeto também inclui a renovação dos instrumentos da banda, a confecção de novas indumentárias e a ornamentação do barco e do andor de São Benedito, garantindo que as tradições visuais da festa se mantenham vivas. Além disso, o Instituto Marlin Azul se compromete a documentar todo o processo, com imagens e registros sonoros, para preservar e divulgar a festa e suas memórias nas plataformas de comunicação do Instituto e da Banda de Congo Panela de Barro.
Segundo os organizadores, o projeto tem um caráter profundamente educativo e comunitário. “Nosso objetivo é promover o conhecimento e a valorização das manifestações culturais locais, garantindo que as tradições do Congo e das cantigas de roda não se percam”, afirma um dos responsáveis pela coordenação do projeto. “É fundamental que as novas gerações compreendam a importância dessas manifestações para a identidade capixaba e para o fortalecimento dos vínculos comunitários.”
Além de contribuir para o resgate da memória cultural, o projeto fortalece a convivência entre as gerações e reforça os laços de solidariedade e pertencimento. Ao se envolverem com os mestres e mestras, as crianças e adolescentes não apenas aprendem sobre as tradições, mas também sobre a importância de preservar a memória e a história da comunidade.
Com o apoio da Lei Paulo Gustavo e a parceria entre o Instituto Marlin Azul e a Banda de Congo Panela de Barro, o projeto também visa assegurar a continuidade dessas tradições, que ainda são mantidas vivas pelas comunidades mais antigas de Vitória, como Goiabeiras e Maria Ortiz. A Festa de São Benedito, em particular, continua sendo um símbolo de resistência, fé e identidade para os capixabas.
Ao final dos encontros, espera-se que as crianças e adolescentes não apenas compreendam a importância da Festa de São Benedito e das tradições do Congo, mas também se sintam motivados a dar continuidade a esses saberes e práticas culturais. O projeto reflete um esforço de preservação da identidade capixaba, que continua a florescer através das mãos e vozes das novas gerações.
Encontros de mestras e mestres
com crianças e adolescentes
Segunda-feira (11/11) – Roda de Conversa
Horários: 9 às 11h e 14 às 16h
Terça-feira (12/11) – Roda de Conversa
Horários: 9 às 11h e 14 às 16h
Quarta-feira (13/11) – Roda de Congo
Horários: 9 às 11h e 14 às 16h
Local: Centro de Atendimento às Crianças e Adolescentes (Caoca), na Rua Professor Mário Bodart, 304, Maria Ortiz (Vitória-ES).