agricultura

Desmistificando a Irrigação por Gotejamento

Entenda as principais dúvidas sobre o sistema de irrigação mais eficiente e os erros que prejudicam os resultados

A irrigação por gotejamento tem se destacado como uma das maiores inovações no campo, oferecendo uma forma eficiente de uso da água, especialmente em tempos de escassez. No entanto, essa tecnologia ainda está envolta em mitos e mal-entendidos que podem comprometer sua efetividade. Com o aumento das temperaturas e a falta de chuvas, muitos produtores começam a questionar se o sistema realmente atende suas necessidades, tomando decisões precipitadas. Para esclarecer as principais dúvidas sobre o sistema de gotejamento, o engenheiro agrônomo Elídio Torezani, diretor da Hydra Irrigações, compartilha as respostas para os equívocos mais comuns.

É comum ouvir que o gotejamento não fornece água suficiente para as plantas, especialmente durante períodos de calor intenso. No entanto, essa visão é equivocada, pois desconsidera o principal benefício do sistema: ele entrega a água de maneira localizada, diretamente na área das raízes, o que permite que a planta a absorva de maneira mais eficiente.

De acordo com Torezani, a frustração dos produtores muitas vezes vem de um manejo inadequado, e não do sistema de irrigação em si. Ele explica que, em climas extremamente secos e quentes, a transpiração das plantas é naturalmente inibida. Esse fenômeno ocorre independentemente do sistema de irrigação, seja por aspersão ou gotejamento.

“A transpiração potencial da planta, em temperaturas extremas, é muito superior à sua capacidade real de transpirar. Isso é uma resposta ao clima desértico, não uma falha do sistema”, afirma o agrônomo.

Diante de dificuldades com o gotejamento durante períodos secos, alguns produtores cogitam substituir o sistema por aspersores. Contudo, essa mudança pode não ser a solução. Torezani explica que, em solos como os cultivados com café conilon – que possuem baixa capacidade de retenção de água – sistemas de aspersão, com alta taxa de aplicação e baixa frequência de regas, não são ideais.

“A eficiência do gotejamento é incomparável, desde que o projeto seja bem planejado e o manejo adequado”, afirma.

Ao contrário do que muitos acreditam, o gotejamento é, na verdade, o sistema mais econômico em termos de uso da água. Isso ocorre porque ele aplica a quantidade exata de água diretamente nas raízes das plantas, de acordo com suas necessidades e as características do solo, minimizando o desperdício.

Outra crença equivocada é que o gotejador deve ficar diretamente sob a planta, o que pode comprometer a eficiência do sistema. O espaçamento e a vazão dos gotejadores devem ser definidos com base no “Teste de Bulbo”, que analisa como a água se move no solo. Este teste determina a distância ideal entre os gotejadores, de modo a criar uma faixa contínua de umidade, sem desperdícios.

“Posicionar os gotejadores muito próximos uns dos outros resulta em altas taxas de aplicação, o que pode levar ao aprofundamento excessivo da umidade, desperdiçando água e nutrientes”, alerta Elídio Torezani.

Além disso, a saturação excessiva na área abaixo do gotejador pode causar encharcamento, tornando as plantas vulneráveis a doenças e deficiências nutricionais.

Um dos maiores obstáculos à eficácia do sistema de gotejamento é a falta de conhecimento técnico, tanto na instalação quanto no manejo. Muitos produtores não receberam o treinamento necessário para utilizar essa tecnologia de forma eficiente. Além disso, projetos mal elaborados podem agravar ainda mais a situação, levando os produtores a acreditar que o gotejamento não funciona adequadamente.

“Quando o projeto é inadequado e o manejo incorreto, o resultado não será positivo. Isso reforça uma falsa percepção de que o sistema de gotejamento não é eficaz”, destaca Torezani.

A solução passa pelo investimento em conhecimento técnico e em projetos de qualidade. Torezani enfatiza que, quando bem aplicado, o sistema de gotejamento é a ferramenta mais eficiente para otimizar o uso da água e garantir a produtividade no campo.

“Desmistificar esses equívocos é fundamental para que os produtores compreendam o verdadeiro potencial dessa tecnologia”, conclui o especialista.

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