Gracimeri Gaviorno é delegada e especialista em segurança pública. Foi chefe da Polícia Civil do ES
O ano era 2001. O Espírito Santo havia sido o primeiro estado do Brasil a ter um Plano de Segurança Pública, e o Governo do ES buscava experiências inovadores que servissem de modelo para fortalecer o enfrentamento à criminalidade. Um grupo de policiais civis e militares foi enviado, então, ao Rio de Janeiro para uma formação na área de inteligência e conhecer de perto o Serviço do Disque Denúncia fluminense, criado em 1995, uma referência no País.
Fui a responsável por estruturar o nosso Disque Denúncia dentro da Secretaria Estadual da Segurança Pública (Sesp). O desafio era centralizar o recebimento de denúncias em um único local, pois cada força de segurança no ES tinha o seu próprio canal para isso. Conseguíamos, assim, organizar o volume de informações, relacionar os dados fornecidos pelo cidadão com segurança.
Fomos alcançando um padrão. Cada denúncia tinha uma senha e o cidadão podia acompanhar os desdobramentos dela. Para garantir o total anonimato dos denunciantes, decidiu-se pela contratação de funcionários terceirizados para o atendimento. Esses profissionais passavam por um rigoroso treinamento e eram assessorados por agente das forças de segurança.
Diferentemente do Rio de Janeiro, no Espírito Santo, depois de um tempo de implantação do serviço, a decisão do Governo foi de arcar com os custos das ligações efetuadas pelos cidadãos, para que não se perdesse nenhuma informação relevante.
Dois casos foram emblemáticos para mim. A denúncia que resultou no esclarecimento do caso do assassinato do juiz Alexandre Martins de Castro Filho e a denúncia que nos permitiu encontrar um homicida que enterrou o corpo da vítima na sala de sua casa.
Sou imensamente grata por constatar que, mesmo depois de mais de 20 anos, o Disque Denúncia ainda é uma ferramenta segura e eficiente, fruto do zelo e responsabilidade que tivemos no passado. Criamos metodologias fortes que ainda se sustentam e assustam aqueles que praticam o crime no nosso Estado. Os números revelam que o serviço é uma ferramenta fundamental para o aumento dos resultados positivos das forças de segurança. Mas toda essa estrutura só teve sucesso pela colaboração espontânea da sociedade capixaba.
Fomos o serviço mais acionado no ano passado entre todos os estados brasileiros. Foram mais de 81 mil denúncias em 2023, que resultaram, por exemplo, na apreensão de mais de 440 armas de fogo, mais de 760 quilos de entorpecentes e a recuperação de 414 celulares roubados/furtados.
São números que orgulham a sociedade capixaba. Mais do que o trabalho das forças de segurança, são resultados que tem a população como protagonista. Vida longa ao nosso Disque Denúncia 181!