“Big Jato”, romance do escritor cearense Xico Sá, virou peça de teatro e, embora esteja há quase uma década em cartaz, chega pela primeira vez ao Espírito Santo, para única apresentação neste domingo (3), no Sônia Cabral. A montagem é protagonizada pelo ator mineiro Diogo Camargos e tem direção de Morgana Kretzmann. Produção local de José Celso Cavalieri.
Na forma de monólogo, a peça apresenta a história de um menino que conta, através do seu olhar de criança e do seu julgamento, as histórias de seu pai, de seu tio, de sua mãe e, principalmente, dele mesmo, desde as primeiras viagens,junto ao pai na boleia do caminhão limpa fossas Big Jato, até sua fuga.
“Estou ansioso e muito feliz de poder levar meu trabalho solo praí. Big Jato é uma história tão brasileira e deliciosa e que comemoro 10 anos de estrada esse ano, com tanta história pra contar nesta estrada. Estou muito feliz e grato e ansioso (risos). Espero ver a casa cheia. O Teatro merece”, declara Diogo Camargos.
A adaptação do livro para o teatro vem da vontade do ator Diogo Camargos e da produtora, atriz e diretora Morgana Kretzmann de trabalharem com literatura no teatro. A escolha do livro “Big Jato” veio imediatamente após a sua leitura, o que foi sucedido pela imediata autorização para a montagem por parte do autor.
A preparação para o espetáculo incluiu a ida do ator e da diretora, juntamente com a produtora Estela Albani, ao Vale do Cariri, no Ceará, para fazer trabalho de pesquisa e laboratório antes de serem iniciados os ensaios. Passaram uma semana percorrendo o roteiro formulado pelo próprio Xico Sá, que incluía a pequena cidade de Santana do Cariri, onde o autor passou a maior parte de sua infância, até Barbalha, Crato e Juazeiro do Norte. A viagem enriqueceu o material de trabalho para ser levado à sala de ensaio, já que o número de pessoas e referências que se encontrou nesta pesquisa foi imprescindível para se começar o processo de adaptação.
“Ser fiel à obra do autor e ao local em que se passa a história é imprescindível para todos que estão envolvidos no projeto, tanto no cenário do espetáculo, como no figurino e na iluminação, trazendo o espectador ao Cariri dos anos 70, à boleia de um caminhão Fenemê, ao olhar de um menino que ao crescer vai mostrando também o mundo do seu pai, o seu ídolo, que dirige um caminhão limpa fossas e lhe passa todo o seu conhecimento da vida”, declara Diogo Camargos.
O ator explica que o intuito com este projeto não foi apenas levar a obra de Xico Sá a todos os lugares junto do universo dele e do sertão do Ceará nos anos 70, mas também trabalhar dentro da proposta inicial, que é adaptar a literatura para o teatro de maneira lúdica e criativa, mas principalmente fiel ao autor, à sua obra, ao seu texto.
A magia teatro
Quando vou ao teatro, quero ser tocado, mexido, quero me divertir mas também sair diferente de quando entrei.
Diogo Camargos é um amante do teatro. Para ele, estar no palco é uma forma de comunhão entre as pessoas. “O Teatro (com T mesmo) é um ritual incrível e único. Cada apresentação é única, pois depende exatamente da reunião de pessoas que se encontram na sala. A energia de uma apresentação para a outra é completamente diferente. O teatro é pulsante, é desafiador e para mim trabalhar com ele é me atirar num despenhadeiro sem equipamentos de segurança. É como um esporte radical. Eu amo o meu trabalho”, declara o ator, que é formado pela Casa de Artes de Laranjeiras (CAL), no Rio de Janeiro.
Segundo o ator, o público costuma falar que o teatro que ele faz o leva a reflexão. “Eu acho o teatro um ótimo entretenimento, mas eu não gosto quando o teatro é só isso. Eu quando vou ao teatro, quero ser tocado, mexido, quero me divertir mas também sair diferente de quando entrei. Em tudo, aliás, nos livros, nas séries, em exposições, eu vou sempre aberto a me surpreender e a me modificar e eu amo quando isso acontece”, afirma Diogo.