Pessoas com síndrome de Down e deficiência intelectual enfrentam desafios únicos quando se trata de dores crônicas, um problema frequentemente subestimado e pouco discutido. Dores crônicas são aquelas que persistem por mais de três meses e afetam significativamente a qualidade de vida. Para indivíduos com essas condições, a experiência da dor pode ser ainda mais complexa devido a uma série de fatores biológicos, psicológicos e sociais.
“Em primeiro lugar, é importante destacar que pessoas com síndrome de Down têm uma predisposição genética a algumas condições que podem causar dores crônicas. Por exemplo, a hipotonia muscular (baixo tônus muscular), comum em indivíduos com síndrome de Down, pode levar a dores articulares e musculares devido ao esforço extra necessário para realizar atividades cotidianas. Além disso, essas pessoas são mais suscetíveis a problemas ortopédicos, como a instabilidade atlantoaxial, uma condição que afeta a articulação entre as vértebras do pescoço e pode causar dor significativa”, explicou o neurologista e especialista em dor, Ramon D’Ângelo Dias.
A identificação e comunicação da dor em pessoas com deficiência intelectual podem ser particularmente desafiadoras. Muitos podem não ter a capacidade de expressar verbalmente o que estão sentindo, o que pode levar ao subtratamento da dor. “Isso é particularmente preocupante, pois a dor não tratada pode levar a um ciclo de deterioração física e mental. Por exemplo, uma pessoa pode evitar o movimento devido à dor, o que pode resultar em perda de mobilidade e aumento da rigidez muscular, agravando ainda mais a situação”, esclareceu o médico.
Além dos desconfortos físicos mencionados, há outros problemas comuns que esses pacientes enfrentam. Distúrbios do sono são prevalentes, exacerbando a percepção da dor e contribuindo para um ciclo de dor crônica e fadiga. Problemas gastrointestinais, como constipação e refluxo gastroesofágico, também são comuns e podem causar desconforto significativo. As condições de saúde mental, como depressão e ansiedade, frequentemente coexistem com a dor crônica, criando um ciclo vicioso que dificulta o manejo eficaz da dor.
Como Tratar?
O tratamento da dor crônica em pessoas com síndrome de Down e deficiência intelectual e física requer uma abordagem multifacetada e individualizada. É crucial que os profissionais de saúde adotem uma comunicação clara e adaptada às necessidades do paciente, utilizando métodos alternativos de comunicação, como linguagem de sinais ou pictogramas, quando necessário. “Intervenções fisioterapêuticas e ocupacionais podem ser extremamente benéficas para melhorar a mobilidade e reduzir a dor. Medicamentos devem ser prescritos com cautela, considerando as possíveis interações e efeitos colaterais”, pontuou Ramon D’Ângelo Dias.
Abordagens integrativas que combinam terapia física, apoio psicológico e cuidados médicos são fundamentais para melhorar a qualidade de vida dessas pessoas. A conscientização sobre a complexidade das dores crônicas em indivíduos com síndrome de Down e deficiência intelectual é essencial para promover um tratamento mais eficaz e humanizado, garantindo que suas necessidades sejam plenamente atendidas.