Em toda ocupação, especialmente naquelas que envolvem liderança e representação social, espera-se postura, clareza e uma vida íntegra. Quando o exercício profissional está diretamente ligado à confiança da população, como ocorre com cargos eletivos ou funções de gestão pública, essa exigência se torna ainda mais rigorosa. A vida pública não comporta contradições graves entre discurso e prática, pois o comportamento pessoal do agente público impacta diretamente a credibilidade de sua atuação institucional.
Nos últimos tempos, episódios envolvendo autoridades têm reacendido um debate essencial: até que ponto a vida privada pode ser dissociada da vida pública? Para os olhos mais atentos e sensatos, essa separação simplesmente não existe quando se ocupa um cargo político ou de gestão. Um vereador, um secretário municipal ou estadual não representam apenas a si mesmos, mas toda uma coletividade que depositou neles confiança, expectativa e responsabilidade institucional.
Quando um agente público defende, em discursos oficiais ou em eventos institucionais, pautas como o combate à violência, a defesa das mulheres ou a promoção dos direitos humanos, espera-se que sua conduta pessoal esteja alinhada a esses valores. Caso contrário, instala-se uma contradição profunda. Como sustentar um discurso contra a violência se, fora do ambiente institucional, o próprio representante se envolve em episódios de agressão ou invasão de domicílio? Atitudes dessa natureza não apenas ferem a lei, mas corroem a autoridade moral necessária para tratar de temas tão sensíveis.
A sociedade cobra coerência. Não basta discursar bem, ocupar tribunas ou conceder entrevistas. O exemplo dado na vida cotidiana é determinante para a credibilidade de quem exerce função pública. Vereadores e secretários, sejam municipais ou estaduais, precisam compreender que suas ações pessoais refletem diretamente na confiança da população e na imagem das instituições que representam.
Essa compreensão não é exclusiva da política. Durante o período em que trabalhei em uma grande empresa no Rio de Janeiro, havia uma orientação clara: adotar um padrão de comportamento que dignificasse o profissional dentro e fora do ambiente corporativo. Cada colaborador era visto como representante da instituição perante a sociedade, e sua credibilidade dependia da coerência entre discurso e prática.
Esse mesmo princípio deve nortear a vida pública. Ao assumir um mandato eletivo ou um cargo de confiança, o agente público passa a ser vitrine do poder público. Sua postura pessoal não pode estar dissociada da função que exerce. Quando um representante se envolve em situações de violência ou desrespeito, compromete não apenas sua imagem individual, mas também a confiança da população no serviço público.
Não existe autoridade moral sem integridade. Falar contra a violência — especialmente a violência contra as mulheres — exige mais do que palavras: exige exemplo. Sem coerência entre o que se diz e o que se faz, o discurso perde força, legitimidade e propósito.
Assim como no ambiente corporativo aprendemos que o exemplo pessoal é parte essencial da liderança, na política essa exigência é ainda maior. Afinal, quem ocupa um cargo público não fala apenas em nome próprio, mas em nome de toda a sociedade que representa.
Por: Valdecir Neves
#valdecirvalneves