Saúde

Mães que não medem esforços

O amor que enfrenta o câncer

Deixam tudo para trás por seus filhos e constroem redes de apoio em meio à dor e à esperança

Por trás de cada criança em tratamento contra o câncer, há quase sempre uma mãe que abriu mão de tudo para acompanhá-la. Trabalho, casa, rotina, a convivência com outros filhos — tudo fica em segundo plano quando a prioridade passa a ser lutar, dia após dia, pela vida de quem mais se ama. Essa é a realidade vivida por centenas de mulheres acolhidas pela Acacci (Associação Capixaba Contra o Câncer Infantil), em Vitória (ES).

A dona de casa Uélica Paulino Fabres, de 36 anos, é uma dessas mães. Quando o filho Henzo, de apenas 6 anos, começou a sentir dores nas pernas, ela percebeu que algo estava errado. Mesmo sem um diagnóstico definido, tomou uma decisão drástica: largou o emprego público na prefeitura de Vargem Alta, no interior do Espírito Santo, para se dedicar integralmente ao filho.

“Ele reclamava de fraqueza nas pernas, e os exames não mostravam nada. Depois vieram febre, vômito e, finalmente, o diagnóstico de leucemia. Desde então, estamos em Vitória para o tratamento”, relata. Longe do marido e da filha mais velha, de 9 anos, Uélica tem enfrentado o desafio do isolamento com o apoio da Acacci, que oferece hospedagem, alimentação e apoio emocional. “É doloroso ficar tanto tempo distante da família, mas estou aqui por ele”, afirma.

Ana Luiza e a mãe Cristiani

Histórias como a de Uélica se repetem com frequência entre as mães que chegam à capital em busca de tratamento. Cristiani Miossi, de 40 anos, está nessa batalha há cinco anos. A filha Ana Luiza, hoje com 17, foi diagnosticada com neuroblastoma em meio à pandemia. “Ela sentia dores na barriga e nas pernas. Um exame revelou uma massa de 22 centímetros. Depois disso, foram anos de quimio, radio, cirurgias e um transplante de medula em São Paulo.”

Para conseguir custear a viagem ao outro estado, Cristiani mobilizou familiares, amigos e até lançou uma vaquinha online. “Quase a perdi. Ver a minha filha em estado tão frágil e sem imunidade foi devastador. Mas hoje, graças a Deus e ao apoio de tanta gente, ela está em remissão. E sonha em ser policial rodoviária federal”, conta com orgulho.

Mãe solo, Cristiani destaca o suporte de pessoas próximas e da Acacci como fundamentais para atravessar esse período. “A Acacci não nos abandonou em nenhum momento. Sem essa rede de apoio, seria impossível.”

Francisco Carlos Gava, diretor-presidente da instituição, reforça que o acolhimento é parte essencial do tratamento. “Não oferecemos apenas suporte logístico, mas também emocional e social. Essas mães enfrentam uma dor enorme e precisam de uma estrutura que as permita continuar lutando”, explica.

Acolhimento e solidariedade que transformam vidas

Fundada há 37 anos, a Acacci atua para garantir o direito de crianças e adolescentes ao tratamento oncológico com dignidade. Em 2024, a instituição realizou mais de 1.190 hospedagens, 705 atendimentos nutricionais, 427 sessões de fisioterapia e mais de 3.700 intervenções sociais e educativas. Também distribuiu cestas básicas, fraldas e serviu mais de 22 mil refeições.

Foto de capa com Uelica e o filho Henzo

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