Um robô que vai revolucionar a vida das crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) foi oficialmente testado em laboratório capixaba. O projeto Robô Castor foi desenvolvido na Colômbia e seus benefícios ampliados com estudos executados pela área de robótica social do Laboratório de Telecomunicações (LabTel), da Universidade Federal do Espirito Santo (Ufes). A exemplo da Colômbia e do Chile, o primeiro teste no Espírito Santo foi positivo e deixou pesquisadores otimistas com os avanços que vão beneficiar crianças com TEA.
A apresentação do teste aconteceu no Centro de Pesquisa, Inovação e Desenvolvimento (CPID) do Governo do Estado, em Cariacica, onde o projeto é executado com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo (Fapes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Internacionalmente, a pesquisa também foi financiada pela Royal Academy of Engineering (Inglaterra) e pelo Departamento Administrativo de Ciencia, Tecnología e Innovación (Colômbia).
O diretor técnico-científico da Fapes, Celso Saibel, acompanhou o primeiro teste oficial do Castor e falou da importância de o Governo do Estado apoiar um projeto com forte peso social. “É importante porque você vê o retorno dos investimentos em projetos tecnológicos e inovadores, que são aplicáveis diretamente na sociedade e resolvendo problemas reais. É uma solução de baixo custo com uma aplicação direta e que pode ser útil para uma boa quantidade de famílias que tenham filhos com espetro autista”, destacou.
Camilo Diaz é professor do Programa de Pós-Graduação de Engenharia Elétrica (PPGEE) da Ufes e o coordenador do projeto pelo Labtel/CPID. Para o professor, a parceria com a Fapes no desenvolvimento do projeto foi fundamental. “Com o recurso que recebemos, foi possível fazer investimentos na aquisição de ferramentas para construir o robô. A estrutura do CPID, que tem equipamentos, como impressora 3D, fez com que ficasse mais barato imprimir o protótipo. O robô chegou aqui basicamente em arquivos e a gente colocou no computador, fez a impressão e agora tem o protótipo funcional”, explicou.
O que diferencia o Castor dos demais países é a implementação de novos recursos tecnológicos pelos pesquisadores capixabas, o que o torna o primeiro robô do mundo com sensores específicos para monitorar as interações com as crianças durante a terapia. Com a inovação do dispositivo, é possível perceber como as crianças estão interagindo com o robô.
O avanço do projeto passa pela validação dos sensores de pressão de fibra óptica de baixo custo, que vai permitir aprimorar o funcionamento e criar uma estrutura mais suave para o Castor. O custo é de, aproximadamente, R$ 7,5 mil, considerado um valor acessível, uma vez que outros robôs utilizados em terapias TEA chegam a custar R$ 65 mil. Além disso, o robô Castor tem código Open Source, ou seja, pode ser replicado a baixo custo.
Desenvolvimento do Castor
Os pesquisadores buscaram dar ao Castor um toque mais humano, reproduzindo suas características físicas, simulando uma maior elasticidade e mobilidade humana. Para isso, foi utilizada na sua criação a tecnologia Compliant Soft Robotics, com um minicomputador integrado que permite controlar diversos comandos, como movimentação dos braços e pescoço. Além disso, os olhos são simulados por um display LCD, que permite reproduzir expressões faciais simplificando algo que crianças com TEA têm dificuldade de entender.
A previsão é que o Robô Castor esteja disponível no mercado dentro de dois anos. Neste período, os pesquisadores vão finalizar o produto com alguns aperfeiçoamentos e com as novas sugestões por parte dos especialistas. Em seguida, formalizar a instrumentação do robô e inserir no processo de reabilitação. Será necessário contato com entidades do Estado para colocar o Castor em funcionamento na parte clínica, com especialistas da área, como psicólogos, psiquiatras, fisioterapeutas e demais especialidades.
Teste com Castor
Duas crianças com TEA foram escolhidas para testarem o robô Castor: Gael Almeida, de 2 anos, e Miguel Jorge Majeski da Silva, de 8 anos. Sara Christian Almeida, mãe do Gael Almeida, que tem autismo leve, falou da experiência do filho com o robô. “Foi boa porque ele não interage e tiveram momentos em que ele ficava olhando o robô piscar os olhos. Então, eu gostei e achei muito legal. Ele interagiu na hora da música e ele é bem difícil de interagir. Não tem muito contato com crianças, nem visual, e, por incrível que pareça, ele ficou olhando, bem agitado, mas ficou olhando”, disse a mãe do Gael Almeida.
Marcela Majeski, mãe do Miguel Jorge Majeski da Silva, que tem nível 3 de autismo e deficiência intelectual, revelou felicidade com o resultado. “O Miguel ficou muito feliz! Foi até uma surpresa porque ele é meio apático, tem um jeitinho agitado, mas não costuma se empolgar muito. Porém, ficou muito empolgado e foi perceptível quando notou que os olhos do Castor se movimentavam e passavam uma expressão para ele. Foi muito bacana perceber que o Miguel curtiu interagir e foi um momento importante. Estou encantada por saber que a ciência e a tecnologia também buscam alternativas para melhorar a nossa vida, que não é fácil por ter um filho autista. Alternativas que tornam nossa vida melhor e facilitam a comunicação deles são sempre muito bem-vindas”, declarou Marcela Majeski.
Além da mãe, o Miguel Majeski teve o acompanhamento da psicóloga Paula Bullerjhann, analista do comportamento que atua há mais 15 anos com crianças e adultos com TEA. No final do teste, ela destacou que foi muito interessante. “O Miguel é uma criança que tem poucos interesses em objetos. Ele tem muito interesse por objetos que são poucos comuns, como uma fita, um brinquedo que ele bate. A gente busca dar funcionalidade ao brincar do Miguel e essa é uma dificuldade de várias crianças, inclusive adultos, que estão dentro do espectro autista. Então, ao ver ele buscando o Castor e seguindo o olhar dele, foi muito interessante. Realmente isso mostra que o potencial do Castor é muito grande e aumenta a probabilidade de ajudar ele a desenvolver alguns repertórios”, disse a psicóloga Paula Bullerjhann.
No aspecto financeiro e de resultados, Paula Bullerjhann pontuou o impacto com o projeto Castor. “A intervenção com autismo é muito cara porque depende de muitas horas na psicologia. Não é uma intervenção convencional, que fica uma hora por semana e pode ir pra casa. É preciso suporte o tempo todo para quem tem pouca iniciativa para comportamentos que são funcionais. Quando temos a possibilidade de um robô de baixo custo que pode ensinar essas crianças a seguirem alguns comandos, desenvolver alguma atividade e se manterem ocupadas com qualidade de vida, é incrível para as famílias e possibilita realmente qualidade de vida”, complementou a psicóloga.
“A criança e o adulto precisam se ocupar e o Castor consegue manter essas crianças mais funcionais e organizadas, sem o suporte de um humano, e isso possibilita que a família possa fazer uma refeição com qualidade, tomar um banho, descansar. Simplesmente, o valor baixo aumenta a probabilidade que se tenha mais famílias sendo atendidas por algo que dá tanta qualidade de vida”, enalteceu Paula Bullerjhann.
O coordenador do projeto Camilo Diaz descreveu a emoção de ver as crianças e as mães felizes com os resultados dos testes. “Isso para mim é bem gratificante porquê reforça que estamos em um bom caminho. Não tinha experiência em ter interação com as famílias. Estava mais na parte técnica. Para mim, foi impactante como eles se empolgaram em ver o que a gente está vendo, no ponto de vista do engenheiro como potencial. Elas também estão vendo isso como família, então acho que a gente está falando a mesma língua”, declarou Camilo Diaz.