Desvalorização do real, queda nas vendas externas, demissões em massa e perda de investimentos estão entre os riscos imediatos para o Brasil, caso a tarifa extra anunciada por Trump entre em vigor em agosto
O anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa adicional de 50% sobre produtos brasileiros exportados para o mercado americano gerou forte reação e preocupações no Brasil. Em carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Trump sinalizou que o aumento tarifário pode ser revertido caso empresas brasileiras decidam produzir ou construir fábricas em território americano. Se confirmado, o novo imposto passa a valer a partir de 1º de agosto e promete efeitos concretos no bolso dos brasileiros.
Segundo a contadora e consultora tributária Emanueli Cristini, apenas o anúncio já provocou a desvalorização de 2,3% do real frente ao dólar, pressionando a inflação de produtos importados. “Uma moeda desvalorizada encarece tudo o que compramos de fora. Além disso, haverá queda nas exportações diretas para os Estados Unidos e os setores de commodities — como soja, milho e petróleo — serão os mais afetados”, alerta.
A redução na demanda externa causada pela alta de preços nos EUA pode ter um efeito inicial curioso: sobras de produtos como café, açúcar e suco de laranja no mercado interno, o que pode baratear temporariamente esses itens para o consumidor brasileiro. Mas o alívio é passageiro. “Empresas que dependem das exportações americanas terão de reduzir a produção, e isso leva inevitavelmente a demissões”, explica Emanueli.
O freio nas vendas externas e a turbulência cambial abrem caminho para um cenário de estagflação leve — combinação de baixo crescimento econômico com inflação elevada. A consultora destaca ainda que o clima de incerteza pode afastar investidores e limitar o acesso ao crédito. Para tentar conter os danos, o governo brasileiro pode reagir com leis de reciprocidade, ajustando alíquotas de IOF, IPI, Imposto de Importação e Imposto de Exportação. Essas medidas visariam pressionar os EUA a rever a taxação, mas teriam como efeito colateral o encarecimento de empréstimos e financiamentos no Brasil.
Por outro lado, Emanueli aponta que esse cenário desafiador também pode abrir oportunidades para uma reestruturação econômica. “Pode ser a chance de o governo e os empresários pensarem em diversificar mercados e reduzir a dependência dos EUA, que é uma economia muito importante para nós, mas cujas decisões políticas podem mudar a qualquer momento”, conclui.
A decisão final do governo norte-americano sobre a tarifa deve sair nas próximas semanas. Enquanto isso, produtores e exportadores brasileiros avaliam estratégias para tentar reduzir perdas ou buscar novos mercados, enquanto o governo federal estuda medidas diplomáticas e comerciais para tentar reverter o cenário.
EUA quer aumentar taxas de exportação sobre o Brasil – Foto gesrey