Medida que entra em vigor nesta sexta-feira (1º) já provoca suspensão de exportações, férias coletivas e interrupção na cadeia produtiva de empresas capixabas
Empresas capixabas ligadas ao comércio exterior vivem um clima de apreensão com a nova tarifa Tarifa dos EUA preocupa comércio exterior capixabade 50% que os Estados Unidos devem aplicar a produtos brasileiros a partir desta sexta-feira, 1º de agosto. A medida já afeta diretamente setores como o de rochas ornamentais e o agronegócio, ambos com forte presença no Espírito Santo.
De acordo com o presidente da Associação Brasileira das Empresas de Comércio Exterior (ABSO), Everton Rossmam Wutke, o impacto já começou mesmo antes da tarifa entrar oficialmente em vigor. “Conversando com representantes de grandes e médias empresas do Espírito Santo, a comparação feita foi com os efeitos da pandemia. Algumas já colocaram funcionários em férias coletivas enquanto aguardam uma definição. Estamos diante de uma possível ruptura na cadeia de produção”, alerta.
O setor de rochas, um dos mais atingidos, depende dos Estados Unidos tanto para exportação quanto para a importação de insumos essenciais. “Essa interrupção compromete desde a aquisição de materiais até a entrega de produtos acabados, prejudicando a operação como um todo”, explica Wutke.
Agricultores da região de Santa Maria de Jetibá também foram afetados. Eles haviam iniciado recentemente exportações para os EUA, mas tiveram que suspender as remessas diante da instabilidade. Apesar de conseguirem redirecionar parte da produção para o mercado interno, o prejuízo logístico e comercial é inevitável.
Com o prazo se esgotando, a ABSO trabalha com cenários alternativos e tenta orientar os associados sobre os possíveis desdobramentos. No entanto, Wutke afirma que realocar a produção para outros mercados não é simples. “Algumas empresas têm filiais ou parcerias com plantas em países como o México, mas isso exige adaptações logísticas e mudanças no processo produtivo. Além disso, os insumos utilizados nos EUA nem sempre são os mesmos de outras localidades”, observa.
Ele também destaca que, mesmo com possíveis negociações futuras, a tendência é que as tarifas permaneçam. “O que se espera agora é que os produtos brasileiros fiquem em condições de igualdade com os concorrentes internacionais. Por exemplo, o café, que não é produzido em território americano, poderia ficar fora da taxação”, sugere.
Wutke ressalta, contudo, que a situação é complexa, pois envolve não apenas questões comerciais, mas também políticas. “A carta que deu origem à medida, enviada pelo ex-presidente Donald Trump, mistura interesses políticos com decisões econômicas, o que complica ainda mais as negociações”, afirma.
Além da pressão internacional, o setor ainda sofre com o aumento da carga tributária interna. O recente reajuste do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre serviços contratados no exterior encarece ainda mais os custos das empresas. “Hoje, a tributação sobre serviços como licenças de software, hospedagem em nuvem e plataformas digitais pode chegar a 47%, dependendo do município. É um impacto que atinge não só as empresas, mas também o consumidor final”, explica.
O transporte internacional também entra na conta. O Brasil contrata entre US$ 20 e US$ 22 bilhões por ano em fretes internacionais, que agora também estarão sujeitos ao novo IOF. “Esses fretes são pagos em reais, mas convertidos em dólar para envio ao exterior, o que gera mais uma camada de custo para o setor”, detalha.
Diante de tantos desafios, o comércio exterior capixaba aguarda os próximos dias com incerteza. A expectativa é de que medidas possam ser revistas ou atenuadas para evitar perdas ainda maiores. Enquanto isso, empresários e associações buscam alternativas para manter a competitividade e garantir a sustentabilidade dos negócios no mercado internacional.