Uma das grandes referências da Geração 80, a artista Suzana Queiroga retorna ao Brasil para sua primeira exposição individual no Espírito Santo, diretamente de Portugal, onde reside atualmente. A exposição “Cronotopias”, que inaugura o calendário de 2025 da Matias Brotas, abre ao público no próximo dia 20 de março, a partir das 14h, com entrada gratuita. A mostra reúne uma série de obras desenvolvidas por Queiroga entre 2018 e 2025, transitando por técnicas como pintura, escultura e instalação.
A artista, que teve uma carreira marcante e contribuiu para a cena artística brasileira nas décadas de 1980 e 1990, é uma das grandes exponents da arte contemporânea brasileira. Suas obras estão presentes em importantes coleções, como o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio) e o Instituto Casa Roberto Marinho. Ex-professora da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Suzana se destaca por seu trabalho multifacetado que aborda temas como o tempo, o espaço e as interconexões entre a arte, a ciência e a filosofia.
“Cronotopias” apresenta um conjunto de obras que exploram o conceito de cronotopia, um termo derivado das palavras gregas “kronos” (tempo) e “topos” (lugar), que reflete a relação intrínseca entre o tempo e os espaços que habitamos. A curadoria de Tales Frey propõe uma imersão nesse universo sensível, onde mapas urbanos, sistemas biológicos e formas orgânicas se encontram em um fluxo constante de transformação. O título da mostra sintetiza a proposta de Suzana Queiroga: criar uma narrativa visual onde os limites entre o físico e o abstrato se dissolvem, permitindo uma nova leitura dos territórios que nos cercam.
Entre as obras que se destacam na exposição, está a instalação “Cidades Nuvens”, composta por folhas recortadas que evocam cartografias fluidas. A obra remete a redes urbanas e sistemas vivos, e sua disposição suspensa no espaço parece questionar as fronteiras fixas entre o real e o imaginário. A interseção entre geometrias precisas e atmosferas volúveis desafia o espectador a repensar as relações entre os elementos que constituem o mundo ao nosso redor.
De acordo com o curador Tales Frey, as criações de Suzana Queiroga estabelecem uma analogia entre a cidade e o corpo humano, um conceito explorado por Richard Sennett em “Carne e Pedra”. A cidade, segundo Sennett, não é apenas uma construção física, mas também um espaço sensorial e corporal que interage com seus habitantes. Suzana, em suas obras, traça paralelismos entre as células, veias e órgãos do corpo humano e as vias de circulação, ruas e infraestruturas urbanas. Essa analogia gera um campo de reflexão sobre como essas conexões podem ser tanto interdependentes e orgânicas, quanto impessoais e desumanizadoras.
O trabalho de Suzana Queiroga também estabelece um diálogo entre arte e ciência, explorando a percepção do infinito, os ciclos da natureza e as dinâmicas das cidades. Em “Cronotopias”, a artista propõe uma reflexão sobre a tensão entre o macrocosmo e o microcosmo, convidando o público a navegar entre os limites do visível e do invisível, do real e do imaginário.
Em suas palavras, Suzana descreve a exposição como um recorte de sua produção ao longo de sete anos, destacando a ideia de que o que está presente nas obras de hoje é fruto do que foi vivido no passado, e que, por sua vez, ressignifica e atualiza o passado. “As dobras no cronos e no topos evidenciam processos envolvidos em uma lógica complexa, em um infinito multifacetado que a arte e a poesia costumam visitar”, comenta a artista. “É um momento muito especial para mim, e estou grata pela oportunidade de compartilhar esse trabalho com o público de Vitória.”
A exposição ficará aberta até 30 de maio e promete ser uma experiência única para os visitantes, oferecendo uma oportunidade para refletir sobre o tempo, o espaço e as interconexões invisíveis que moldam nossa realidade. “Cronotopias” é mais do que uma simples mostra de arte: é uma viagem sensorial e intelectual através dos processos que nos conectam com o mundo, a cidade e o corpo.
Suzana Queiroga
Suzana Queiroga é uma das grandes artistas da arte contemporânea brasileira, com uma carreira consolidada desde a década de 1980. Sua produção transita entre diversos meios, como vídeo, performance, instalação, pintura, escultura, entre outros. Formada em Artes Plásticas pela UFRJ, com mestrado em Linguagens Visuais e doutorado em História das Ciências e Epistemologia, a artista também lecionou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Desde 2017, vive em Cascais, Portugal, e continua sua produção artística tanto em Portugal quanto no Brasil, abordando temas como o tempo, o infinito, a física e a relação entre arte e ciência.