De acordo com o Unicef, uma em cada três crianças com menos de 5 anos – cerca de 250 milhões – está desnutrida ou com sobrepeso. Um dos principais alertas da instituição diz respeito ao fato de que práticas alimentares de baixa qualidade começam desde os primeiros dias de vida de uma criança por meio do aleitamento materno. No entanto, a realidade mundial é a de que apenas 42% das crianças com menos de 6 meses de idade são amamentadas exclusivamente e um número crescente de bebês é alimentado com fórmula infantil.
Esse, porém, é apenas um dos hábitos alimentares infantis capazes de colocar em risco questões como o desenvolvimento cerebral das crianças, deixando-as sujeitas a dificuldades de aprendizagem, baixa imunidade, aumento de infecções e outros problemas. Muito se fala sobre a importância de uma alimentação equilibrada enquanto adultos, mas pouco ainda se destaca sobre como os cuidados da mãe com a alimentação ainda nos primeiros meses de gravidez pode influenciar as próximas fases da nossa vida.
Especialista em Nutrição Materno Infantil e Nutrição Clínica Funcional, Giselle Guzzo destaca que a introdução alimentar do bebê é um dos momentos mais importantes da vida do ser humano e que vai ditar a relação desse novo indivíduo com os alimentos também na vida adulta, além do impacto na saúde ao longo dos anos.
Segundo ela, é a partir da 14ª semana de gestação que a papila gustativa do bebê começa a tomar forma e ele começa a engolir líquido amniótico, que tem o sabor do que é consumido pela gestante. “Depois do nascimento, até os seis meses de idade, é o leite materno a principal fonte de nutriente e referência de sabor para o neném. Quando ele chega ao processo de introdução alimentar, no qual começa a ingerir outros tipos de alimento, ele começa a manifestar suas preferências. Bebês que receberam fórmula, por exemplo, têm uma probabilidade maior de apresentar dificuldades na introdução alimentar, porque experimentou apenas um sabor durante esse período”, explica Giselle.
“Tem bebê que come bucho, maracujá na colher, alimentos que, hoje, muitas crianças e adultos rejeitam. A nossa geração tem preferência só pelo salgado e doce, justamente porque a maioria das pessoas foram incentivadas desde os 4 ou 6 meses, iniciando até antes do que é o recomendado, com suco de laranja lima, banana amassada, tudo doce demais, por exemplo”.
A especialista em Nutrição Materno Infantil pontua que entre os bebês em que há a modulação da alimentação desde a gestação ou então em que se inicia a introdução alimentar respeitando os sinais de prontidão e o tempo de cada um, é possível observar que há maior aceitação dos alimentos. “Nessa fase, eles não precisam comer, precisam se divertir, desenvolver os sentidos. Por isso, esse é o período em que apostamos em valorizar a textura dos alimentos, o cheiro, o visual com muitas cores, o que vai criando memórias afetivas vinculadas à comida e os fará se desenvolver apreciando as frutas, os vegetais, carnes e itens com alto valor nutricional”, detalha Giselle Guzzo.
Como transformar o seu filho em um Bebê Bom de Prato?
Em mais de 18 anos de experiência dedicados à saúde alimentar de bebês e crianças, a profissional Giselle Guzzo já transformou a vida de mais de 5 mil famílias. Uma das ferramentas que utiliza para isto é o programa Bebê Bom de Prato, um guia essencial para os primeiros 1.100 dias de vida do bebê, combinando nutrição, amor e ciência.
Segundo Giselle, esse é um programa feito para atender não somente as mamães de primeira viagem, como também educadores, cuidadoras, outros profissionais da saúde que atuam com bebês e, claro, vovós, vovôs e outros membros da família que participam da criação dos pequenos.
“Ele é dividido em três fases estratégicas, cada uma meticulosamente desenhada para nutrir, proteger e estimular o desenvolvimento da criança desde a pré-gestação até os dois anos de idade, que, como sabemos através de estudos e na prática, trarão benefícios até a vida adulta”, explica.