Momentos de raiva, tristeza ou de exaustão física podem ser gatilhos para desencadear um Acidente Vascular Cerebral (AVC)
O Dia Mundial de Combate ao AVC, comemorado no dia 29 de outubro tem como objetivo conscientizar a população sobre o Acidente Vascular Cerebral (AVC), conhecido como derrame, destacando a importância da prevenção, do reconhecimento dos sintomas e do atendimento rápido, que podem salvar vidas.
Um estudo divulgado em 2022, conhecido como INTERSTROKE, revelou que o estresse, sentimentos como nervosismo, raiva e tristeza extremos são fatores significativos para o desenvolvimento de um AVC. A exaustão física também foi apontada como um fator relevante na pesquisa, que coletou dados de participantes em 32 países, incluindo o Brasil. Todos os participantes haviam sido diagnosticados com um AVC em algum momento de suas vidas.

Segundo o neurologista da Rede Meridional, José Antônio Fiorot Junior, a maioria dos casos de AVC pode ser evitada ao controlar alguns fatores de risco, como obesidade, hipertensão, diabetes, colesterol alto, sedentarismo, altos níveis de estresse constante, tabagismo e o uso de outras drogas. No entanto, há fatores sobre os quais não se pode controlar, como a idade (o problema é mais comum em idosos), o gênero (acomete mais homens) e até mesmo a genética de cada pessoa.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) confirma que 90% dos derrames poderiam ser prevenidos por meio da prevenção. Para reduzir os fatores de riscos de AVC, os especialistas recomendam a adoção de hábitos saudáveis, independentemente da idade. Algumas medidas importantes incluem: Praticar esportes ou atividade física regularmente; ter uma boa noite de sono; manter uma alimentação saudável; fazer exames periodicamente; não fumar; evitar excesso de álcool; não fazer uso de drogas ilícitas; manter o peso ideal; beber bastante água e manter a glicose sob controle.
Adotar essas medidas pode ajudar a reduzir significativamente o risco de AVC e promover uma vida mais longa e saudável. É importante lembrar que pequenas mudanças no estilo de vida podem ter um grande impacto na prevenção de doenças cerebrovasculares e na promoção da saúde geral.
Vida após o AVC
A maioria das pessoas que sofre um acidente vascular cerebral sobrevive. Mas, o dia a dia da pessoa após o AVC não é mais o mesmo.
Segundo o neurologista da rede Meridional, Cícero Lima, após um AVC, existem mudanças emocionais e comportamentais, pois o acidente vascular cerebral afeta o cérebro, que controla nosso comportamento e emoções. Irritabilidade, esquecimento, descuido ou confusão, além de sentimentos de raiva, ansiedade ou depressão também são comuns nesse período de recuperação”, completa o médico.
O AVC é a principal causa de perda de independência. Algumas se recuperam completamente ou ficam com sequelas que não trazem prejuízo para o dia a dia, já outras podem ter comprometimento de funções importantes do cérebro causando perda da funcionalidade. *Segundo a Sociedade Brasileira do AVC*, as principais sequelas causadas pelo AVC são:
Fraqueza ou dificuldade com os movimentos (controle motor):
- Perda da capacidade de sentir o tato, dor, temperatura ou a noção de posição do corpo;
- Perda de força nos membros, que geralmente afeta um lado do corpo. A perda completa de força de um lado do corpo se chama hemiplegia, enquanto uma perda parcial é denominada hemiparesia
- Dificuldade na deglutição, o que é chamado de disfagia
- Perda de controle dos movimentos do corpo, prejudicando a postura corporal, o caminhar e o equilíbrio, denominado ataxia
- Rigidez muscular: No caso do AVC, além de haver fraqueza, pode haver também uma rigidez do músculo, chamada de espasticidade, que leva a uma postura inadequada, maior dificuldade de movimentação e dor.
Alterações de sensibilidade:
- Perda da capacidade de sentir o tato, dor, temperatura ou a noção de posição do corpo;
- Dor, dormência, sensação de peso ou formigamento;
- Dor crônica pode ser causada em decorrência de alterações mecânicas ocasionadas pela fraqueza, como uso excessivo de um músculo para compensar a perda de movimento de uma parte do corpo. Também pode ser consequência da falta de utilização de um membro por período prolongado de tempo, fazendo com que as articulações fiquem muito tempo sem movimentação.
Problemas na fala:
- As dificuldades da fala podem ocorrer tanto pela fraqueza dos músculos utilizados para articular as palavras, o que é chamado de disartria, quanto por acometimento de áreas do cérebro responsáveis pela comunicação. Neste último caso, o paciente pode apresentar dificuldade para expressar ideias e/ou compreender a fala ou a escrita, o que é denominado de afasia.
Problemas na memória e raciocínio:
O AVC pode danificar áreas do cérebro responsáveis pelo que chamamos de funções cognitivas (memória, pensamento, raciocínio, aprendizagem, entre outros). Alguns pacientes podem ter dificuldade com a atenção, planejamento e execução de tarefas, aprendizagem de novas habilidades e memória de curto prazo.
Outros sintomas podem ser a incapacidade de reconhecer as partes do corpo afetadas pelo AVC (anosognosia), perda da capacidade de responder a estímulos provenientes do lado afetado pelo AVC (negligência) ou perda da habilidade de executar um movimento destinado a uma tarefa específica, como pentear o cabelo ou manusear os talheres durante uma refeição (apraxia).
Alterações emocionais:
Algumas pessoas após o AVC podem apresentar alterações de comportamento ou sintomas de ansiedade, depressão, com sentimentos de desesperança, falta de ânimo ou prazer nas atividades cotidianas.
Diante destas sequelas, os esforços para minimizar o impacto na qualidade de vida e aumentar a recuperação funcional após o AVC é o foco da reabilitação. O seu principal objetivo é auxiliar as pessoas a reaprenderem as habilidades perdidas com a doença, a ganharem independência e melhorarem a qualidade de vida.
Por exemplo, as pessoas que não conseguem falar depois de um AVC podem reaprender a falar, ou pelo menos se comunicar de alguma forma alternativa. Da mesma maneira, as pessoas que não podem andar podem reaprender a andar, às vezes com auxílio de uma bengala ou andador.
Várias abordagens são importantes na reabilitação, e profissionais de diferentes áreas devem estar envolvidos nesse processo. O planejamento vai depender da parte do corpo afetada ou das funções afetadas pela doença.
Alguns dos profissionais que podem auxiliar nas estratégias de reabilitação são:
- Neurologista: profissional especializado no diagnóstico e tratamento do AVC, incluindo intervenções que auxiliem a prevenir que ocorram novos AVCs e a reduzir as chances de sequelas;
- Fisiatra: atua na estratégia de reabilitação oferecendo ao paciente meios e recursos para que ele possa se recuperar das limitações ocasionadas pelo AVC.
- Fisioterapeuta: auxilia nos problemas relacionados à movimentação e equilíbrio, sugerindo exercícios para fortalecer os músculos, ficar de pé, melhorar a caminhada e outras atividades.
- Terapeuta ocupacional: responsável por elaborar estratégias para que o paciente retorne a fazer as tarefas do dia a dia, como comer, tomar banho, se vestir, escrever, cozinhar, se comunicar, etc.
- Fonoaudiólogo: atua na recuperação da fala, leitura e escrita, além de ajudar os pacientes com dificuldade de engolir.
- Nutricionista: atua no planejamento da alimentação, especialmente em dietas com baixo teor de sódio, de gordura e calorias.
- Neuropsicólogo: auxilia os pacientes com alterações na memória, raciocínio e comportamento e no tratamento de alterações de humor, como ansiedade e depressão.
Segundo Fiorot, a reabilitação deve começar o mais cedo possível, idealmente ainda nas primeiras 48 horas após o AVC, caso as condições clínicas do paciente permitam. A recuperação varia de pessoa para pessoa, e é difícil prever o quanto o paciente irá melhorar dos sintomas ou quanto tempo isso levará. “É normal que a recuperação seja mais rápida nos primeiros meses, e depois diminua o ritmo lentamente, mas é importante não desanimar. Muitas pessoas continuam evoluindo devagar por meses ou até mesmo anos depois”, afirma o médico.