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Mucane Museu Capixaba do Negro está de volta

Mucane Museu Capixaba do Negro está de volta

Foi fundado, em 1993, pelo então governador Albuino Cunha de Azeredo (1945-2018), primeiro governador negro do Espirito Santo no período de 1991 a 1995. Está instalado em um prédio histórico, construído em 1912, que no passado havia abrigado uma casa de couros e, posteriormente, uma farmácia. Em 1923, já sob propriedade do Governo do Estado capixaba, tornou-se sede do Correio de Vitória, do Departamento de Estatística Geral e do Departamento Estadual de Cultura.  O edifício do Museu passou por um processo de simples e reforma e restauração, sendo entregue em 2012 para sociedade civil, infelizmente sem a devida conservação. Conta com equipamentos como auditório, biblioteca, área de eventos, espaço para exposições e mezaninos.

As obras de restauração do icônico Mucane – Museu Capixaba do Negro, testemunho da rica herança afrodescendente da cidade, que passou por um rigoroso processo de restauração, realizadas pela Prefeitura Municipal de Vitória, prefeito Lorenzo Pazolini, entregue em 23 de setembro último. Um tesouro cultural localizado no centro da cidade, preservando assim a sua cultura, o seu papel histórico, paisagístico, cultural e artístico, devolvendo aos capixabas um espaço significativo que conta uma história de valor para toda a comunidade de matriz africana. Um belíssimo espaço destinado a registrar, preservar e argumentar a partir do olhar e da experiência do negro a formação da identidade brasileira, permitindo assim desenvolver a museologia, história, antropologia, artes e educação. O Museu Capixaba do Negro é uma homenagem à Maria Verônica da Pas, ex-integrante da comissão criadora do museu e também a primeira coordenadora da instituição.

Agora restaurado e acessível, com cores que falam à alma do nosso povo preto, em um museu contemporâneo, em que o negro de hoje pode se reconhecer. Um espaço para integrar os anseios do negro jovem e pobre à sua programação, não só contribuindo para sua formação educacional e artística, mas também para a formação intelectual e moral de negros e brancos, cidadãos brasileiros, em benefício das gerações que virão. Um museu capaz de colaborar na construção de um país mais justo e democrático, igualitário do ponto de vista social, aberto à pluralidade e ao reconhecimento da diversidade no plano cultural, mas também capaz de reatar os laços com a diáspora negra, promovendo trocas entre a tradição, a herança local e a inovação global. Principalmente por se tratar de um local que enfatiza a importância e a beleza da cultura negra e valoriza a trajetória do Mucane nos seus mais de 30 anos de história. Conta com equipamentos como auditório, biblioteca, área de eventos, a maior galeria para exposições da região metropolitana de Vitória, e mezaninos. O museu agora vive uma nova fase.

Um museu dedicado às tradições africanas no nosso estado tem, pois, como missão precípua a desconstrução de estereótipos, de imagens deturpadas e de expressões ambíguas sobre personagens e fatos históricos relativos ao negro, que fazem pairar sobre eles obscuras lendas que um imaginário perverso ainda hoje inspira, e que agem silenciosamente sobre nossas cabeças, como uma guilhotina, prestes a entrar em ação a cada vez que se vislumbra alguma conquista que represente mudança ou o reconhecimento da verdadeira contribuição do negro à cultura capixaba e brasileira.

ARTIGO Por Manoel Goes, escritor, gestor cultural e diretor no Instituto Histórico e Geográfico do ES.

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