Cultura

Lets lança single em homenagem à matriarca do povo bantu no ES

“Escuta que vou contar” estreia no dia 26 de junho nas plataformas digitais e celebra a ancestralidade afro-capixaba

O cantor e compositor capixaba Lets lança no próximo dia 26 de junho o single “Escuta que vou contar”, uma homenagem à matriarca do povo bantu no Espírito Santo, Dona Laura Felizardo, falecida em 2020 aos 92 anos. A canção estará disponível em todas as plataformas digitais e abre o caminho para o lançamento do primeiro álbum do artista, intitulado “Esfera”, previsto para 1º de agosto.

Selecionado pelo Edital de Produção Musical nº 12/2023 da Secretaria de Estado da Cultura (Secult-ES), o projeto marca uma nova fase na carreira do artista de 37 anos, que nasceu em Vitória e iniciou sua trajetória artística sob o nome de batismo, Letícia Chaves. Agora, sob o nome Lets, ele se afirma como um corpo preto, LGBTQIA+ e representante de pautas sociais urgentes. “Fazer esse disco e poder falar sobre tantos outros iguais a mim é dar voz a quem não tem voz”, declara.

A composição de “Escuta que vou contar” nasceu de um pedido do bailarino e coreógrafo Paulo Fernandes, filho de Dona Laura, que desejava eternizar em música o legado de sua mãe, uma das principais referências do congo capixaba. A canção, no entanto, só foi concluída após o falecimento de Dona Laura, e carrega elementos simbólicos da cultura bantu e da tradição popular do Espírito Santo.

“Essa música fala da minha origem, do povo bantu, e da cultura popular, marcada pelo ritmo do congo”, explica Lets. Com sonoridade marcada por groove, capoeira, suingue e percussão, a faixa também conta com participações especiais: o percussionista Léo de Paula, que assina a percussão, e a mãe do artista, Celina Chaves, que recita um texto na parte central da canção. “Colocar duas mães pretas e dois filhos dessas mães numa música representa um atravessamento ancestral de verdade”, pontua.

A produção musical ficou por conta de André Daumas, que também assina a captação, mixagem e masterização. O time de músicos inclui Hugo Maciel (baixo), Luiger Lima (bateria) e Chanel Rigolon (violão e cavaco), além da arte visual assinada por Giovanna de Oliveira.

A faixa é a primeira de um total de 11 composições que compõem o álbum “Esfera”. O segundo single, “Nu”, será lançado em 17 de julho. Além das músicas, Lets lançará também uma série de cinco episódios de podcast, a partir de 30 de junho, sempre às segundas-feiras, às 12h, nas plataformas digitais. A proposta é ampliar os diálogos iniciados nas canções e refletir sobre temas como religiosidade afro-brasileira, identidade de gênero, política, ancestralidade e o fazer artístico no Espírito Santo.

Entre os convidados do podcast estão nomes como:

  • Alufa Baralejian, liderança religiosa da Cabula;

  • Édiphon Souza, escritora e artista trans;

  • Ana Paula Rocha, vereadora de Vitória e irmã do ativista Lula Rocha;

  • Paulo Fernandes, filho de Dona Laura;

  • E os músicos Ury Vieira e Dan Abranches, que discutem os desafios dos artistas trans na música capixaba.

A relação de Lets com a música começou ainda na infância, cantando na igreja. Aos 15 anos, ganhou um violão do pai e passou a se dedicar ao instrumento e ao contrabaixo de forma autodidata. Suas influências transitam por nomes como Djavan, Gilberto Gil, Ana Carolina, além de artistas contemporâneas da nova MPB como Luedji Luna, Liniker, Tássia Reis, Xênia França e Juçara Marçal.

Nos últimos anos, Lets tem se destacado em festivais como Feira Cultural LGBT, Festival Prata da Casa, Criolando e a Mostra Sesc Glória, além de lançamentos importantes como o EP “Nu” (2020) e os singles “Tempo de Nanã” (2021) e “Encontro Precioso” (2023).

Para Lets, a arte é instrumento de transformação. “A música, para mim, é o caminho de cura, libertação e exaltação ao povo preto. A palavra chega às vezes como espada, mas também há afeto, acolhimento e força”, define o artista, que une lirismo e resistência em sua criação musical, reverberando vozes que por muito tempo foram silenciadas.

Leia também