A puxada e a fincada do mastro marcam o segundo momento da festa em devoção ao santo
Na quarta-feira (25/12), às 17h, as ruas de Goiabeiras, em Vitória (ES), se encherão de alegria e devoção com a realização da tradicional Festa de São Benedito. O evento, que celebra a fé e a cultura capixaba, terá como destaque a puxada e a fincada do mastro, momentos simbólicos que marcam o segundo ato da festividade. Essa celebração remonta a uma história que atravessa gerações, desde o período da escravidão, quando náufragos de um navio negreiro, em busca de proteção, prometeram homenagear o santo todos os anos.
Com o ritmo envolvente das batidas de congo e as cantigas populares, a comunidade será convidada a participar de um cortejo pelas ruas, balançando estandartes e clamando proteção, agradecimento e fé. A festa é promovida pela Banda de Congo Panela de Barro de Goiabeiras, em parceria com o Instituto Marlin Azul, e tem o apoio do Edital Patrimônio Vivo da Secretaria da Cultura (Secult-ES), com recursos da Lei Paulo Gustavo/Ministério da Cultura/Governo Federal.
Este ano, a Festa de São Benedito se desdobra em três grandes momentos. O primeiro deles aconteceu no dia 08 de dezembro, com a cortada simbólica do mastro, que percorreu as ruas de Goiabeiras. O segundo ato, a puxada e a fincada do mastro, será celebrado no dia 25 de dezembro, data que coincide com o nascimento de Jesus. A última etapa da festa, marcada para o próximo ano (2025), será a retirada do mastro, no Domingo de Páscoa.
Além de manter viva essa tradição religiosa, o projeto busca valorizar a memória das manifestações culturais locais, especialmente as expressões do congo e das cantigas de roda, transmitidas de geração em geração por meio da tradição oral. Essas práticas culturais, que refletem os laços de convivência e a forte comunidade de Goiabeiras, são fundamentais para fortalecer a identidade capixaba e preservar os costumes populares.
Em novembro, as bases para essa celebração foram plantadas com a realização de seis encontros entre as mestras e mestres dos saberes populares e as novas gerações. Crianças e adolescentes do Centro de Atendimento às Crianças e Adolescentes (Caoca) tiveram a oportunidade de aprender sobre a história do congo e as cantigas de roda com os congueiros e cantadeiras da comunidade.
Durante esses encontros, os mestres compartilharam histórias de vida, falaram sobre a origem do congo na região e apresentaram os instrumentos musicais típicos da banda. As cantadeiras também transmitiram os saberes sobre as canções tradicionais, incluindo as toadas do Congo, a Folia de Reis e o Boi Estrela, e ensinaram algumas dessas canções aos mais jovens. A troca de saberes entre gerações fortaleceu o vínculo comunitário e incentivou a renovação das tradições.
Além disso, o projeto permitiu a renovação dos instrumentos da banda, a criação de novas indumentárias, adereços e a ornamentação dos barcos e andores com rosas, crisântemos, bolas e bandeirolas. A memória da festa também será preservada com a produção de um documentário em imagens e som, que será publicado nos canais de comunicação do Instituto Marlin Azul e da Banda de Congo Panela de Barro.
São Benedito, cuja vida é marcada pela sabedoria e humildade, nasceu em 1526 em Messina, na Sicília (Itália). Filho de africanos escravizados, ele foi libertado junto com seus pais ao nascer. Desde jovem, destacou-se por sua dedicação à vida religiosa, tornando-se cozinheiro e, posteriormente, superior da Irmandade de São Francisco de Assis. No Brasil, especialmente entre os negros escravizados, São Benedito tornou-se um dos santos mais cultuados. Sua canonização ocorreu em 1807, e ele continua sendo uma figura central nas celebrações de fé e devoção, como a festa que ocorre anualmente em Goiabeiras.
Este ano, a comunidade capixaba tem um motivo a mais para celebrar a memória de São Benedito, mantendo viva uma tradição que fortalece a cultura local e a espiritualidade de todos os envolvidos.
