Pedidos nas vitrines podem virar lições: férias são oportunidade para ensinar crianças a lidar com dinheiro
As férias escolares costumam vir acompanhadas de passeios, vitrines chamativas e uma sequência quase infinita de pedidos das crianças. Para muitos pais, o desafio é equilibrar diversão e limites sem transformar o período em conflito. Mas, segundo o educador financeiro da Sicredi Serrana, Creiciano Paiva, esse cenário típico das férias pode se tornar uma oportunidade valiosa de aprendizado sobre dinheiro, escolhas e responsabilidade.
De forma prática, ele explica que respostas automáticas, como o clássico “na volta a gente compra”, quando não são verdadeiras, podem gerar frustração e até abalar a confiança das crianças. “A criança percebe quando a promessa não vai se cumprir. A falta de clareza enfraquece o vínculo”, destaca. A orientação é trocar o “não” vazio por diálogo, explicando como as decisões financeiras são feitas dentro da família.
A educação financeira, segundo Paiva, vai muito além de permitir ou negar compras. Envolve mostrar que toda escolha exige planejamento, prioridade e consciência. Quando a criança entende por que algo não pode ser comprado naquele momento, ela desenvolve autocontrole, senso de responsabilidade e passa a compreender o valor do dinheiro. Durante as férias, quando os pedidos aumentam, também crescem as chances de aplicar esses conceitos na prática.
O educador reforça que a organização começa antes mesmo do passeio. Combinar previamente o que pode ou não ser comprado — seja limitar a quantidade de itens ou definir um valor máximo — traz previsibilidade e segurança emocional. Quando surge um pedido fora do combinado, basta retomar o acordo feito em casa. “Isso ajuda a regular o emocional e organizar o cognitivo da criança, porque ela sabe o que esperar”, explica.
Participar das decisões também faz diferença. Ao ouvir frases como “isso não está nos nossos planos hoje” ou “vamos colocar na sua lista de desejos”, a criança percebe que existe um caminho entre querer e conquistar. Esse processo ensina paciência, noção de tempo e organização, habilidades essenciais que vão além da relação com o dinheiro.
Ferramentas simples, como o uso do cofrinho ou uma pequena mesada adequada à idade, também têm papel importante nesse aprendizado. Guardar, esperar e planejar a compra de algo com o próprio dinheiro ajuda a criança a vivenciar o conceito de sonho. “Ela entende que imaginar, planejar e esperar fazem parte da conquista. Isso marca e ensina sobre paciência e planejamento”, afirma Paiva.
O contato com o dinheiro deve ser contínuo e natural, respeitando a fase de desenvolvimento da criança. Situações cotidianas, como escolher entre dois lanches ou decidir entre gastar agora ou guardar para algo maior, ajudam a construir uma base sólida para o futuro. Quanto mais aberto for o diálogo, mais o tema deixa de ser tabu dentro de casa.
Para facilitar essa conversa, a Sicredi Serrana aposta em estratégias lúdicas. Uma das iniciativas é a parceria nacional do Sicredi com a Mauricio de Sousa Produções, que resultou em uma série especial da Turma da Mônica sobre educação financeira. De forma leve e acessível, os materiais abordam temas como origem do dinheiro, orçamento familiar e diferenças entre compras à vista e a prazo. “Esses conteúdos são aliados importantes para pais e responsáveis, porque transformam conceitos complexos em histórias que as crianças entendem”, destaca o educador.
6 dicas para colocar em prática nas férias
Combine antes do passeio: defina limite de valor ou quantidade e retome o acordo quando necessário.
Use frases claras e honestas: explique que algo “não está nos planos” ou “não é prioridade agora”.
Crie uma lista de desejos: fotografar itens ajuda a organizar vontades e prioridades.
Incentive o cofrinho ou mesada educativa: o próprio dinheiro gera senso de responsabilidade.
Mostre o processo: esperar, planejar e escolher também fazem parte da aprendizagem.
Evite promessas vazias: sinceridade fortalece o vínculo e reduz frustrações.