Ser escritor ou escritora é muito mais do que um ato solitário diante de uma folha em branco. É semear sonhos. É cultivar universos. É transformar a palavra em ponte — entre o real e o imaginário, entre o íntimo e o coletivo. É, sobretudo, ter coragem para expor a alma e provocar reflexões. No Brasil, terra de tantas contradições e riquezas culturais, escrever é também resistir.
A literatura brasileira se orgulha de nomes que ajudaram a construir a identidade do país, com talento, coragem e sensibilidade. De Jorge Amado, com sua inesquecível Dona Flor e Seus Dois Maridos, a Machado de Assis, que marcou gerações com obras-primas como Dom Casmurro e Memórias Póstumas de Brás Cubas. Passando por Clarice Lispector, com sua intensa Macabéa em A Hora da Estrela, e chegando às vozes contemporâneas, como Ana Maria Gonçalves, com Um Defeito de Cor, e Bernadette Lyra, autora capixaba de títulos como A Capitoa e A Pata do Rinoceronte Branco.
Há ainda os nomes que construíram sua trajetória com forte presença regional, como o poeta capixaba Sergio Blank. Considerado um dos grandes da literatura do Espírito Santo, Blank foi um defensor incansável da leitura e da palavra. Sua partida precoce, aos 56 anos, em 23 de julho de 2020 — dois dias antes da celebração do Dia Nacional do Escritor — marcou profundamente o meio literário. Cariaciquense de origem, lançou seu primeiro livro aos 20 anos e, entre os anos 1980 e 1990, publicou seis obras que demonstravam uma busca constante por diferentes formas de linguagem e expressão.
O Dia Nacional do Escritor foi instituído em 25 de julho de 1960, por iniciativa da União Brasileira dos Escritores (UBE), durante o 1º Festival do Escritor Brasileiro. Na ocasião, nomes como João Peregrino Júnior e Jorge Amado, então presidente e vice da entidade, entenderam a importância de reconhecer a produção literária brasileira como parte da identidade cultural do país.
Mas ser escritor não se resume a homenagens. A ocupação desse lugar passa por um reconhecimento coletivo de uma luta histórica: a de dar voz a quem, por muito tempo, foi silenciado. Escritoras e escritores que resistiram, mesmo quando à margem das decisões políticas e sociais. A literatura, nesse contexto, se torna trincheira, escola de pensamento e ferramenta de transformação. É ela quem forma o cidadão, desperta o senso crítico, constrói memória e identidade.
Escrever é um ato de coragem. É dividir a alma em palavras e oferecer ao outro a chance de refletir, de discordar, de sentir. Como bem disse um escritor anônimo: “Escrever é colocar um pedaço de si mesmo no mundo e torcer para que alguém o encontre”.
E por que escrevemos? Cada autor tem sua resposta. Mas talvez a mais honesta seja: escrevemos para sermos lidos. Porque só quando o outro lê é que a palavra se completa. A escrita, então, deixa de ser apenas uma inquietação íntima e passa a ser ponte, espelho, abrigo.
Neste 25 de julho, celebremos todas e todos que ousam escrever — os que estão nas prateleiras, os que estão nos cadernos ainda não publicados, os que estão nas redes, nas escolas, nas periferias, nos interiores e nas grandes cidades. Que a literatura continue sendo instrumento de liberdade, beleza e verdade.