A capital capixaba entrou no centro do debate nacional sobre gestão hídrica com o lançamento da Carta de Vitória, apresentada durante o encerramento do XXVI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, realizado no Pavilhão de Carapina, na Serra. O maior evento sobre águas da América Latina reuniu pesquisadores, especialistas, gestores públicos e representantes da sociedade civil para discutir desafios e soluções diante do agravamento da crise climática.
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O documento surge em um momento decisivo, logo após a divulgação da Carta da COP-30, reforçando o compromisso do Brasil com políticas ambientais mais robustas e integradas. A Carta de Vitória destaca a urgência em fortalecer a produção científica, ampliar redes de monitoramento e modernizar os instrumentos de gestão, fundamentais para enfrentar a intensificação de secas, enchentes e outros eventos hidrológicos extremos.
Segundo o documento, o Brasil vive um cenário de emergência hidrológica, marcado pela combinação de secas severas, inundações recorrentes e variações climáticas mais intensas. Para responder a esse quadro, o texto defende que investir em ciência, dados confiáveis, qualificação de especialistas e inovação tecnológica é condição indispensável para orientar políticas públicas baseadas em evidências.
A Carta ressalta que decisões bem embasadas garantem respostas mais rápidas, precisas e responsáveis aos eventos extremos — tendência que deve se intensificar com o avanço das mudanças climáticas.
Outro ponto estruturante do documento é a necessidade de integrar políticas de saneamento, meio ambiente, energia, irrigação, indústria e navegação. A Carta propõe que o país avance para modelos de planejamento que considerem usos múltiplos da água, resiliência e sustentabilidade, reconhecendo as diferenças regionais e os desafios específicos de cada bacia hidrográfica.
O texto também defende comunicação transparente, participação social qualificada e estratégias de adaptação às mudanças climáticas.
Produzida pela Associação Brasileira de Recursos Hídricos (ABRHidro), a Carta de Vitória reúne análises técnicas e científicas que irão orientar a atuação institucional da entidade no biênio 2026–2027, além de embasar a participação de seus representantes em colegiados de gestão pelo país.
O simpósio, cujo tema foi “A Água como Agente de Transformação: Conectando Pessoas, Saberes e Territórios”, contou com a presença de especialistas de diversas áreas, pesquisadores de universidades brasileiras e autoridades do setor hídrico.
O documento também aponta como prioridade o fortalecimento do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH), da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e dos órgãos gestores estaduais. Para isso, defende a ampliação das redes de monitoramento, equipes técnicas mais qualificadas, recursos adequados e a implementação plena dos instrumentos legais de gestão previstos na legislação.
Resumo: o que diz a Carta de Vitória
Incentivar investimentos em pesquisa, desenvolvimento científico e inovação tecnológica;
Desenvolver e aprimorar a gestão de riscos frente a eventos hidrológicos extremos;
Promover a gestão das águas considerando a diversidade regional;
Integrar a Política Nacional de Recursos Hídricos com outras políticas setoriais;
Avançar na segurança hídrica diante das mudanças climáticas;
Ampliar a implementação dos instrumentos previstos na Lei 9.433;
Articular a Política Nacional de Segurança de Barragens com a segurança hídrica;
Fortalecer os órgãos gestores estaduais;
Expandir o monitoramento das bacias hidrográficas brasileiras;
Reforçar a atuação da ANA e do SINGREH;
Integrar a gestão de águas superficiais e subterrâneas;
Garantir a sustentabilidade das infraestruturas hídricas;
Modernizar o ensino de recursos hídricos em todos os níveis.
O simpósio é promovido pela ABRHidro e conta com apoio da Secretaria de Recuperação do Rio Doce e do Governo do Espírito Santo, além de patrocínio da Cesan, Vale, CNPq, Itaipu Binacional, CBH Paranaíba, FLO-2D, Operador Nacional do Sistema Elétrico e DualBase.