“Com temperaturas acima da média, é mais urgente pensar em cidades capixabas com mais áreas verdes”, diz Conselheira do Instituto de Arquitetos do Brasil no ES
Uma massa de ar muito quente deve trazer calor fora de época para boa parte do
Brasil nos últimos dias de abril, segundo a MetSul Meteorologia. Esse episódio de
forte calor deve trazer marcas acima ou muito acima da média em diversos estados,
mas principalmente aos do Centro-Oeste, do Sudeste e do Sul do Brasil. Eventos
como este tornam o pensamento sobre métodos de resfriamento dos ambientes
urbanos cada vez mais urgente.
O Espírito Santo tem apresentado nos últimos anos a maior taxa de crescimento
demográfico dos estados do Sudeste, proporcionalmente falando. E esse
crescimento, apesar de se constituir por todo o estado, se concentra na região
metropolitana. Quase 50% da população do estado reside nesses municípios, ou
seja, todo o espaço urbanizado também cresce progressivamente. Cerca de 75% de
todas as emissões que contribuem para o aquecimento global são provenientes de
áreas urbanizadas.
Segundo a arquiteta e urbanista conselheira do Instituto de Arquitetos do Brasil no
Espírito Santo, Nayara Gava, além das mudanças climáticas geradas pelo efeito
estufa, resultado de ações antrópicas em nível global, é importante nos atentarmos
para os impactos da urbanização sobre o microclima, como as ilhas de calor.
Esse fenômeno acontece em cidades que apresentam grande concentração de
asfalto e concreto, pois são materiais que retém calor e o liberam ao longo do dia,
contribuindo para o aumento da temperatura local. “O aquecimento global é uma
condição complexa, e que necessita de amplas estratégias para ser atenuado. A
arborização urbana pode não ser a solução para esse problema, mas é uma
alternativa relevante, afirma a arquiteta.
A especialista em sustentabilidade ainda esclarece que nossas cidades são
responsáveis por acelerar e agravar as mudanças climáticas, portanto temos que
nos comprometer em conter essa condição. Estratégias precisam ser traçadas. “A
arborização urbana é sempre bem vinda e na cidade de Vitória deveria ser uma
estratégia essencial. Esses elementos ajudam no controle de temperatura pois
auxiliam na fixação de gases de efeito estufa que já estão soltos, impedido-os de
chegar à atmosfera. Também contribuem com o escoamento pluvial e são eficientes
no resfriamento local, uma vez que uma sombra de copa de árvore pode alcançar a
diminuição de até 4ºC”, destaca Nayara.
Além disso, a especialista salienta que as árvores não apresentam resoluções só no
aspecto climático, mas também atuam com eficiência na mitigação de ruídos, por
que elas se tornam barreiras acústicas. E isso influencia diretamente na saúde dos
indivíduos que vivem no meio. De acordo com a arquiteta, em Vitória já foi feito um
inventário de arborização urbana do município, contudo as espécies presentes
muitas vezes não estão sendo bem aproveitadas, no plano estratégico como um
todo. Os novos, e poucos exemplares, não estão sendo locados em ruas ou
avenidas de grande tráfego de pedestres e ciclistas, fator que dificulta o uso desses
espaços durante o dia e contribui com a escolha pela utilização de automóveis
motorizados – grandes emissores de gases nocivos.
A Conselheira do IAB/ES reforça que essa urbanização precisa prestar um pouco
mais de atenção em como tratar essas árvores. “Muitas delas estão sendo
sufocadas. Temos que lembrar que as árvores são seres vivos. Elas se movem, elas
precisam de espaço de terra para as raízes e para que a água da chuva tenha
escoamento. O planejamento de arborização precisa, em primeiro lugar, respeitar
os biomas preexistentes, tanto a flora quanto a fauna, pois os animais devem ser
considerados nesse processo. Em seguida, ponderar sobre o uso dos espaços da
cidade, estimulando as pessoas a caminharem nas calçadas e viverem a cidade”,
defende a especialista.