O Circuito de Exibição do Curta Vitória a Minas III, projeto que transforma histórias locais em filmes produzidos por moradores, começa sua jornada nesta terça-feira (21/11), com a exibição do curta-metragem As Cercas, em Colatina (ES). Na quarta-feira (22/11), a caravana segue para Ibiraçu, onde será exibido o filme inspirado na imigração italiana, que marcou a história da cidade. As sessões são gratuitas e abertas ao público, oferecendo uma experiência de cinema ao ar livre, em uma estrutura itinerante que levará a magia do cinema a diversas cidades ao longo da Estrada de Ferro Vitória a Minas.
O projeto, patrocinado pelo Instituto Cultural Vale e com apoio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, tem como objetivo resgatar e divulgar as memórias e histórias locais, transformando-as em filmes por meio da participação ativa das comunidades. Os filmes exibidos no circuito foram desenvolvidos por autores e autoras locais, que, após uma imersão audiovisual de 15 dias em Guarapari (ES), receberam orientação profissional para aprender sobre roteiro, direção, produção e outros aspectos técnicos do cinema. O resultado desse processo é uma série de curtas que retratam a vida, as tradições e as lendas das cidades ao longo da ferrovia.
O curta As Cercas, que será exibido em Ibiraçu (22/11), conta a história de um conflito entre duas famílias italianas que chegaram ao Brasil no final do século XIX, impulsionadas pelo sonho de uma vida melhor. A trama se passa no contexto da imigração italiana, um marco histórico importante para o Espírito Santo, especialmente em Ibiraçu, cidade que foi um dos primeiros núcleos de colonização italiana no estado.
Baseado em relatos de seu avô Wilson Maioli, o diretor Otávio Luiz Gusso Maioli retrata a convivência de duas famílias vizinhas, produtoras de café, e o desentendimento sobre o limite de suas terras. “Quis fazer uma ficção baseada em fragmentos da realidade, trazendo à tona os conflitos, mas também os valores e o modo de viver da comunidade. Minha intenção não era simplesmente resgatar os fatos históricos, mas construir uma narrativa que fizesse justiça às memórias afetivas e à cultura desses imigrantes”, explica Otávio.
O filme é um exemplo do quanto o projeto Curta Vitória a Minas não só preserva, mas também enaltece a história local, ao mesmo tempo que envolve a comunidade no processo criativo e técnico da produção cinematográfica. O envolvimento dos moradores foi essencial para dar vida a As Cercas, e Otávio compartilha que a experiência foi enriquecedora: “Foi uma oportunidade de aprender e me superar. Ver a minha história se tornando um filme, com a participação de familiares e amigos, foi um momento muito especial.”
Após Ibiraçu, a caravana do Curta Vitória a Minas III seguirá para diversas cidades capixabas e mineiras. Em cada parada, o caminhão-cinema, equipado com uma telona de 8×6 metros, projetores, sistema de sonorização e cadeiras, leva as produções locais para o grande público. As sessões são gratuitas e abrem um espaço para o fortalecimento da identidade comunitária, dando voz aos moradores e valorizando as histórias que muitas vezes permanecem nas memórias.
O percurso da caravana inclui as cidades de Colatina (21/11), Ibiraçu (22/11), Conselheiro Pena (23/11), Periquito (24/11), Governador Valadares (25/11), Belo Oriente (26/11), Ipatinga (27/11), Coronel Fabriciano (28/11), Nova Era (29/11) e João Monlevade (03/12). Durante as exibições, o público poderá assistir aos curtas-metragens feitos por autores da própria região, como A Casa Sinistra, de Marisa de Almeida Silva (Colatina), Um Rio de Histórias, de Márcia Cristina Cândido Cruz (Conselheiro Pena), e Escasso, de Pedro Vinícius Siqueira Batista (Governador Valadares), entre outros.
O projeto Curta Vitória a Minas III não se limita apenas à produção de filmes, mas visa também a integração das comunidades nas várias etapas do processo. Após a imersão teórica, os autores retornaram às suas cidades de origem, onde realizaram a pré-produção e as filmagens com a colaboração de outros moradores, que participaram em funções artísticas e técnicas, como direção de arte, fotografia, som e produção.
A culminância do projeto será a exibição dos filmes nas próprias cidades que serviram de inspiração para as histórias, o que não só aproxima os moradores da arte cinematográfica, mas também fortalece o sentimento de pertencimento e valorização das suas culturas locais.
Além de percorrer as cidades capixabas e mineiras, os filmes produzidos no Curta Vitória a Minas III serão inscritos em mostras e festivais de cinema, dando a essas histórias a chance de alcançar um público ainda maior. O projeto é uma oportunidade única de conhecer o Brasil por meio do olhar e da vivência dos próprios habitantes das cidades ao longo da Estrada de Ferro Vitória a Minas.
Para quem deseja conferir as exibições, basta ficar atento à programação das sessões gratuitas, que prometem encantar com a diversidade de histórias e a riqueza cultural das comunidades que fazem parte deste projeto cinematográfico.