Setor de serviços e agropecuária puxam avanço anual, mas retração no 1º trimestre e cenário externo acendem alerta para 2025
A economia do Espírito Santo cresceu 1,2% no acumulado de 12 meses encerrados em março de 2025, segundo dados do Indicador de Atividade Econômica (IAE-Findes), divulgado nesta terça-feira (17) pelo Observatório da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes). Apesar do resultado positivo no consolidado anual, o desempenho do primeiro trimestre revela retração de 1,2% e levanta preocupações sobre o rumo da economia capixaba nos próximos meses.
O estudo trimestral funciona como uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB) estadual, já que os dados oficiais do IBGE costumam ter defasagem. A análise aponta crescimento puxado pelos setores de serviços (2,4%) e agropecuária (5,5%), enquanto a indústria recuou 2,6% no acumulado em 12 meses.
O setor de serviços segue como principal motor da economia do Espírito Santo. No primeiro trimestre de 2025, o segmento cresceu 0,9%, com destaque para transporte aéreo de passageiros, turismo e comércio de produtos essenciais, como alimentos e medicamentos.
“Mesmo com a inflação elevada e os juros altos, o consumo das famílias se manteve razoavelmente aquecido. Isso se deve à melhora no mercado de trabalho e ao aumento real da renda no Estado”, avalia Marília Silva, economista-chefe da Findes.
A taxa de desemprego no Espírito Santo caiu para 4% — uma das menores da série histórica — enquanto o rendimento médio mensal do trabalho subiu 10,5% em 12 meses até março, superando a inflação do período (5,15% na Grande Vitória).
Apesar do bom desempenho anual, a agropecuária capixaba sofreu uma retração de 3,7% no primeiro trimestre deste ano. O resultado foi puxado pela queda de 11% na agricultura, com recuo na produção de culturas importantes como café, milho, cana-de-açúcar e tomate.
A pecuária, por outro lado, registrou alta de 3,2%, impulsionada pela suinocultura e pela produção de aves e ovos.
A indústria capixaba foi o setor que mais preocupou no início de 2025. O recuo de 6,8% no trimestre foi puxado principalmente pela queda de 16,3% na indústria extrativa, fortemente impactada pela baixa nos preços internacionais de commodities como petróleo e minério de ferro.
Outros segmentos industriais também apresentaram desempenho fraco: a construção civil caiu 0,2% e a indústria de transformação ficou estagnada. Apenas o setor de energia e saneamento avançou, com crescimento de 5,8%.
Com base nos dados do primeiro trimestre, o IAE-Findes projeta uma retração de 0,8% na economia capixaba até o fim de 2025. A estimativa é atualizada trimestralmente e pode variar ao longo do ano.
“O cenário atual exige cautela. A economia capixaba está exposta a fatores internos e externos, e os próximos meses serão decisivos para entender se haverá uma inflexão positiva”, afirma Marília.
O cenário nacional também impõe desafios. A inflação ao consumidor chegou a 5,32% em 12 meses até maio, acima do teto da meta de 4,5% estabelecida pelo Banco Central. A Selic, taxa básica de juros, foi elevada três vezes pelo Copom neste ano e atualmente está em 14,75% ao ano, o maior patamar desde 2017.
Para o setor produtivo, o crédito caro é um entrave. “Juros altos dificultam o acesso ao financiamento e afetam diretamente a capacidade de investimento das empresas. Isso prejudica a geração de empregos e o crescimento econômico”, explica Eduardo Dalla Mura, 1º vice-presidente da Findes.
Com perfil exportador, o Espírito Santo também sente os efeitos das incertezas globais. A corrente de comércio do Estado somou US$ 5 bilhões no primeiro trimestre — queda de 9,6% em relação ao mesmo período do ano anterior.
As exportações caíram 6,5%, impactadas pela baixa nos preços das commodities, enquanto as importações recuaram 12,4%, com destaque para a redução na compra de veículos.
“Tensões comerciais entre China e Estados Unidos e a nova política de taxação americana afetam diretamente nosso comércio exterior. O Espírito Santo, por ser altamente integrado ao mercado internacional, é particularmente sensível a essas mudanças”, afirma Marília Silva.
Resumo dos números do IAE-Findes (1º trimestre de 2025):
Variação da atividade econômica (trimestre): -1,2%
Crescimento acumulado em 12 meses: +1,2%
Setor de Serviços: +0,9%
Agropecuária: -3,7%
Indústria: -6,8%
Previsão para 2025: retração de 0,8%
Inflação na Grande Vitória (12 meses): 5,15%
Taxa de desemprego no ES: 4%
Por: Luciene Costa
Fotos: Renan Donato/Findes