Geral

ARTIGO -Eleições na OAB: uma guerra de comunicação que demanda táticas específicas

Abrir esse artigo dizendo que cada campanha é uma campanha seria de uma obviedade constrangedora. Mas o faço para destacar que quando o assunto é OAB, a discrepância aumenta. Um abismo separa o complexo sistema dos advogados para outras campanhas majoritárias e proporcionais. A começar pela peça-chave: o advogado, que só vota se tiver com a anuidade em dia, mas paga multa caso opte pela abstenção. Isso mesmo: a democracia não vale para o eleitor que não tem contas no azul.

Na OAB, não se escolhe bandeiras. Você precisa dar contas de todas e saber entregar a mensagem certa para o jovem advogado sonhador, mas aflito; para uma ESA que entenda que os desafios mudaram, para subseções cansadas de passar o pires, uma interiorização urgente e uma estrutura mais democrática, plural e transparente. Vou além: OAB não é eleição de classe. É eleição de sociedade. Não se fala somente para dentro. A Ordem de Agesandro, Genelhu, José Ignácio, Milton, Hélio, Homero e companhia não escuta ecos. Pelo contrário: os promove, atenta ao que se passa na sociedade.

Na eleição em que cabe boca de urna, os motivos que levam um advogado ao voto são distintos daqueles ideais de sentimento e emoção que se tenta despertar nas eleições de vereança e prefeituras, por exemplo. Pleitos passados mostram que advogados e advogadas tendem muito a tomar decisões em grupo – e dificilmente diluem seu processo de tomada de decisão no tempo. Não se seduzem fácil com uma proposta ou outra apenas, ou com uma história de vida em específico. Tudo isso ajuda, mas não é bala de prata. Há exceções, claro, mas metonímia, definitivamente, não é uma figura de linguagem para as eleições da OAB. As decisões são tomadas pelo todo: daí a importância de uma narrativa bem consolidada – e de alianças bem exploradas.

A eleição de Patricia Vanzolini, por exemplo, comprova isso: pediu mudanças de forma duríssima, mas ainda assim elegante; se mostrando parte da indignação e um olhar de esperança – esse sentimento que cai bem para gregos e troianos. Embalou tudo com uma história de vida abordada de forma discreta, mas relevante; e um conjunto visual que corroborou com credibilidade e aprazibilidade todo o resto. E, claro, fez o dever de casa no media training, com performances ótimas em debates. Debates, ah os debates, esse tatame que separa os homens dos meninos.

O que o futuro preserva para Rizk Filho, Ben Hur Farina, Homero Mafra, Erica Neves, Kelly Andrade, Neffa Junior, Ítalo Scaramussa, Anabela Galvão, Alberto Nemer e companhia? A advocacia dirá, mas não sem antes se conectar com um deles. Ninguém sai de casa para votar num líder que não admira e que não mostre ter o remédio certo para sua dor. A notícia boa é que temos tempo para escrever esse receituário.

 

Lucas Rezende é Head de Estratégia na LR Comunicação. Especialista em Comunicação Política, Gestão de Crise e Gestão de Reputação pela ESPM. Já assinou campanhas vitoriosas para a Assembleia Legislativa e a Ordem dos Advogados do Brasil. Também atua na comunicação de eventos de grande complexidade

Leia também