Dia desses policiais norte-americanos prenderam dado cidadão suspeito de ser autor de crime – um certo Donald Neely. O dito cujo foi algemado com as mãos para trás. Em seguida os agentes da lei arrumaram uma longa corda. Uma das pontas foi atada às algemas. A outra, entregue a um policial montado sobre um cavalo.
Foi assim, conduzido tal qual um bicho, que Donald percorreu as ruas de uma cidade do Texas, a caminho da delegacia – aliás, o tratamento foi pior do que aquele dispensado aos animais, pois há que se adicionar à cena aquela humilhação que a execração pública traz.
Diante deste chocante abuso movimentou-se a consciência das instituições. Organizações de proteção dos direitos humanos foram a público denunciar que os policiais só agiram daquela forma por tratar-se de um suspeito pobre. Entidades de defesa dos direitos civis anunciaram as consequências civis e criminais do comportamento dos policiais.
A imprensa reagiu, assim como o mundo das leis. O respeitado jornal The New York Times dedicou ao caso ampla cobertura – inclusive destacando a declaração do presidente da Coalisão pela Justiça de Galveston, no sentido de que aqueles policiais deveriam ser demitidos.
Acuada, a instituição policial foi a público pedir desculpas a Donald e à população, e bem assim garantir que fatos como este não mais se repetirão.
Dia desses policiais brasileiros prenderam dado cidadão suspeito de ser autor de crime. O dito cujo foi algemado com as mãos para trás. Em seguida os agentes da lei arrumaram um palco, decorado com símbolos da instituição. Convocaram toda a imprensa para um tal “ato de apresentação” (?).
Levaram, então, o suspeito, sem camisa, para o centro do palco, tal qual se faria com um bicho – pior, aliás, pois que a estes inadmissível aquela humilhação que a execração pública traz.
Diante deste chocante abuso não movimentou-se a consciência das instituições. Ninguém denunciou nada. Não se ouviu em lugar nenhum que os policiais não agiriam assim se o suspeito fosse alguém poderoso. A única atitude da imprensa foi a de publicar as fotos da humilhação imposta a um mero suspeito. O mundo das leis sequer tomou conhecimento do fato.
Pois é. Poucos perceberam que naquele palco estavam, além do suspeito, a hipocrisia e covardia de uma sociedade que se diz cristã.
Pedro Valls Feu Rosa é jornalista, escritor e desembargador no Espírito Santo