O crescimento das apostas online tem provocado impactos preocupantes na economia e no mercado de trabalho, especialmente no setor de bares e restaurantes. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Rodrigo Vervloet, o vício em jogos de azar — como apostas esportivas e cassinos virtuais — está afetando diretamente o comportamento e a produtividade dos trabalhadores, além de reduzir o consumo nesses estabelecimentos.
“Temos relatos lamentáveis de funcionários que pediram demissão acreditando que poderiam viver do ‘Tigrinho’ e de apostas online”, afirma Vervloet, referindo-se às modalidades de jogos de roleta e máquinas virtuais. Ele explica que há dois tipos principais de apostas: as esportivas, como jogos entre Flamengo e Vasco, e os cassinos online. Ambos, segundo ele, causam prejuízos tanto pessoais quanto coletivos.
A situação tem se tornado um desafio adicional para os empresários do setor, que já enfrentam dificuldades para encontrar mão de obra qualificada. O vício em apostas tem levado trabalhadores ao endividamento e à demissão, com alguns tentando quitar dívidas com o valor das rescisões contratuais. “Isso cria um ciclo vicioso, em que o colaborador sai do emprego formal, se endivida ainda mais e não consegue voltar ao mercado”, alerta o presidente da associação.
Vervloet também chama atenção para o impacto no atendimento ao público e na relação com os clientes. “Já imaginou o prejuízo de um funcionário que deixa de atender corretamente por estar distraído ou ansioso por causa do jogo? Isso afeta diretamente a qualidade do serviço e, consequentemente, o consumo.”
De acordo com levantamento recente citado pela entidade, o número de pessoas que deixaram de consumir em bares e restaurantes por estarem endividadas com jogos online subiu de pouco mais de 24% para 28%. “São divisas que saem da economia brasileira, muitas vezes para plataformas estrangeiras. Precisamos regulamentar e tratar isso como um problema social grave.”
Diante do cenário, a associação tem distribuído cartilhas educativas aos empresários e incentiva o diálogo com os funcionários. “Esses jogos não são feitos para as pessoas ganharem. É fundamental que todos entendam isso”, reforça Vervloet.
O transtorno do jogo é reconhecido como uma doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece atendimento gratuito para quem enfrenta esse problema. Há ainda apoio de grupos como o Jogadores Anônimos, que atua em todo o país e disponibiliza orientação e ajuda por meio do site www.jogadoresanonimos.org.br.