Artigo

A Sordidez do Racismo

Após a abolição da escravatura no Brasil em 1888 e no Mundo, o racismo passou a ser expressado de maneira diversa. Em seguida, no Brasil, após a sanção da Lei Áurea, pela princesa Isabel, e o golpe que culminou na queda da Monarquia brasileira e ascensão da República, as pessoas negras foram deixadas de lado e expulsas de suas casas, surgindo então, o racismo estrutural e institucional brasileiro. Nesse aspecto, surgiram as primeiras comunidades de pessoas negras do Brasil, o que hoje é comumente chamado de “favela”, principalmente em se tratando de lugares que carecem de saneamento básico, de saúde pública, de infraestrutura para a educação primária e média e, tampouco agrega valores para uma qualificação profissional no ensino superior, ou seja, há uma omissão estatal face as garantias fundamentais que assegurem as mínimas condições de se estabelecer uma vida digna àquela comunidade.

A abismo que separa pretos e pardos dos brancos pode ser mensurado, onde nosso povo preto compõe  57 % dos brasileiros, onde estão os menores salários, o maior contingente de desempregados, a maior taxa de analfabetismo do Brasil, e onde as crianças morrem mais por causas que poderiam ser evitadas se tivessem acesso a um sistema de saúde adequado. Se escondem por trás dos números e estatísticas o dia a dia, o difícil cotidiano de milhões de brasileiros que enfrentam, às vezes até sem querer, o racismo nas ruas ao ir à uma loja, à padaria e mesmo ao trabalho. O racismo também se manifesta de formas que podem ser menos gritantes, mas produzir efeitos mais devastadores na vida da pessoa negra. Estudiosos da desigualdade racial afirmam que, para que a luta contra a discriminação da população negra produza resultados consistentes, há um passo decisivo que nós, brasileiros, ainda não demos: assumir que somos, sim, racistas — seja como indivíduos, seja como sociedade.

Quando se admite a existência do racismo, cria-se automaticamente a obrigação moral de agir contra ele, onde a negação é essencial para a continuidade do racismo. Ele só consegue funcionar e se reproduzir sem embaraço quando é negado, naturalizado, incorporado ao nosso cotidiano como algo normal. Não sendo o racismo reconhecido, é como se o problema não existisse e nenhuma mudança fosse necessária. A tomada de consciência, portanto, é um ponto de partida fundamental. Passados os 135 anos sem escravização, o movimento negro busca, gradativamente, seu espaço diante de uma sociedade ainda preconceituosa. Dos quilombos até a era da internet muita coisa aconteceu, sendo que a representatividade é cada vez mais pautada como uma das medidas antirracistas.

Essa representatividade é relevante nas relações sociais, a fim de reconhecer a identidade de um grupo e reforçar o direito de igualdade em um caminho diverso. Podemos ver negros apresentando telejornais, novelas com muitos núcleos familiares de negros, ocupando as universidades e influenciando pessoas por meio de livros, redes sociais, palestras e outros cenários. Influenciando pelo exemplo de que é possível estar em posições de destaque, o que ainda é muito pouco, mas, infelizmente, continuando a crescer no país, no período de 2021 e 2022 cerca de 67 %, segundo pesquisas. Em 2023, com um de vários eventos, testemunhamos a teimosa e sórdida agressão racista ao jogador brasileiro Vinicius Jr., jogador do time espanhol Real Madrid, amplamente noticiado mundo afora.

A legislação papel importante no combate ao racismo com dispositivos legais que combatem a injúria racial e o racismo no Brasil, bem como a criação do Dia da Consciência Negra, 20 de novembro. Porém, ainda é preciso ter mais ações afirmativas de combate à discriminação, proporcionando transformações culturais segmentadas pelo respeito e pela empatia. E lembro que racismo é crime. Basta!

 

ARTIGO – Por Manoel Goes Neto – escritor, produtor cultural e diretor no IHGES

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