O sono é um dos pilares fundamentais para a longevidade e bem-estar, desempenhando um papel crucial tanto na saúde física quanto mental. Contudo, a realidade de muitas pessoas é bem diferente: um estudo publicado na Sleep Epidemiology em 2022 revelou que 65% dos brasileiros não têm boas noites de sono. A consequência dessa falta de descanso adequado é mais do que apenas cansaço; os impactos são profundos e podem afetar diretamente a qualidade de vida das pessoas.
Para a médica especialista em Medicina do Sono e Presidente da Associação Brasileira do Sono (Regional ES), Jessica Polese, as mudanças na rotina moderna são uma das principais responsáveis por esse cenário preocupante. “A forma como vivemos nossas horas de vigília afeta diretamente o sono noturno. Quando começamos a ter dificuldades para dormir, criamos uma obsessão que só piora a situação. A ansiedade, em particular, é um dos grandes vilões do sono”, explica a médica.
Nos dias atuais, muitas pessoas estão cada vez mais sobrecarregadas com compromissos profissionais e pessoais, o que reduz o tempo dedicado ao descanso e ao relaxamento. “O tempo parece mais escasso, e o dia que deveria terminar de forma tranquila – com o momento de descanso antes de dormir – não acontece mais. Isso acaba impactando a qualidade do sono”, comenta Jessica. Quando a pessoa finalmente deita na cama, a insônia ou outros distúrbios, como apneia do sono, roncos e despertares noturnos, frequentemente se tornam obstáculos para um sono reparador.
Esse ciclo de noites mal dormidas resulta em um dia seguinte de cansaço extremo, o que agrava ainda mais a dificuldade para adormecer. “A noite não conta com um sono restaurador, e a pessoa se sente sonolenta durante o dia, criando um ciclo vicioso”, explica a especialista.
Os distúrbios do sono não afetam apenas o humor e o desempenho diário; também podem aumentar o risco de uma série de problemas de saúde graves. A falta de sono adequado está associada a um aumento da vulnerabilidade a infecções virais, desequilíbrios inflamatórios, doenças metabólicas e cardiovasculares crônicas, como diabetes, hipertensão e obesidade.
A médica alerta que os medicamentos para dormir devem ser considerados apenas como último recurso. “Existem exames especializados para diagnosticar os problemas relacionados ao sono, como a polissonografia, que é muito comum. Atualmente, temos a possibilidade de realizar esse exame em casa, o que torna o processo mais confortável para o paciente, já que ele pode estar em seu próprio ambiente, na sua cama”, ressalta Jessica.
Além disso, a especialista enfatiza a importância de mudanças nos hábitos diários para melhorar a qualidade do sono. A boa notícia é que a medicina do sono oferece diversas alternativas não medicamentosas para combater distúrbios e promover um descanso reparador.
A adoção de uma higiene do sono adequada é essencial para garantir que o descanso seja realmente eficaz. Confira algumas orientações para melhorar a qualidade do seu sono:
- Mantenha um horário regular para dormir e acordar
A regularidade ajuda a estabelecer um ritmo biológico saudável. - Evite cafeína, álcool e refeições pesadas antes de dormir
Esses fatores podem prejudicar a qualidade do sono e dificultar o adormecer. - Terapia Cognitivo-Comportamental para Insônia (TCC-I)
A TCC-I ajuda a identificar e reverter pensamentos e comportamentos que interferem no sono. - Pratique atividade física regular
Exercícios, preferencialmente pela manhã ou à tarde, contribuem para um ciclo de sono saudável. - Técnicas de relaxamento
A respiração profunda, o relaxamento muscular progressivo e a ioga podem ser eficazes para aliviar a tensão antes de dormir. - Exposição à luz natural
Passar tempo ao ar livre durante o dia ajuda a regular o relógio biológico. - Evite telas e luz azul à noite
A exposição à luz de dispositivos eletrônicos pode atrapalhar a produção de melatonina, o hormônio responsável pelo sono.