Cultura

“Ayo – A Bonequinha do Queimado” celebra memória e esperança

Curta-metragem “Ayo – A Bonequinha do Queimado” celebra memória, resistência e esperança no Sítio Histórico de São José do Queimado

O curta-metragem “Ayo – A Bonequinha do Queimado” será lançado no dia 20 de dezembro de 2025, no YouTube, trazendo ao público uma narrativa sensível que une memória, ancestralidade e valorização da cultura negra no Espírito Santo. Com menos de dez minutos de duração, a obra foi gravada no Sítio Histórico de São José do Queimado, na Serra, cenário simbólico de fé, resistência e preservação da história serrana.

Inspirado na vivência dos escravizados em meados da década de 1840, o filme nasce a partir de memórias, afetos e histórias que atravessam gerações. A narrativa da bonequinha Ayo foi escrita por Nanda e desenvolvida especialmente para o público infantil, com o objetivo de fortalecer sentimentos de identidade, pertencimento e esperança, ao mesmo tempo em que promove o contato das crianças com a história e a memória coletiva do território.

O elenco reúne a atriz Mallu Vieira, as gêmeas Raquel Rosa e Raquely Rosa, a artesã Agda Matos — criadora das bonequinhas que inspiram o filme — além de Dany Barbosa, Serena Oliveira e Wanderley Candeias. A presença da própria artesã na produção reforça o vínculo entre tradição, arte manual e narrativa audiovisual, ampliando o sentido de autenticidade da obra.

A direção de fotografia é assinada por Kerley Assis, que também divide o roteiro com Fernanda Vieira, responsável ainda pela produção e direção do curta. A pós-produção e a edição final estão previstas para serem concluídas em até 30 dias, preparando o filme para sua estreia digital.

Mais do que uma produção audiovisual, “Ayo – A Bonequinha do Queimado” se apresenta como um gesto de preservação da memória, um ato de valorização da cultura negra e serrana e um convite à reflexão sobre histórias que resistem e permanecem vivas no território do Queimado, dialogando com crianças e adultos por meio da arte.

Uma narrativa construída pela sensibilidade

O roteiro do curta constrói uma história delicada e profundamente conectada à memória afetiva e ancestral de São José do Queimado. A trama parte de um gesto simples e carregado de significado: uma bonequinha feita pelas mãos de uma avó, que concentra cuidado, afeto e tradição, tornando-se especial para a menina Antônia.

Entre a realidade e o imaginário infantil, o filme acompanha a relação silenciosa e encantada entre Antônia e Ayo. Nos arredores da histórica igreja do Queimado, a bonequinha parece ganhar vida por meio do brincar, do olhar curioso e da imaginação livre da criança. O roteiro evita explicações diretas e aposta na sugestão, permitindo que o espectador seja conduzido pela atmosfera de encantamento.

Ao adormecer, Antônia atravessa o limite do sonho. É nesse território onírico que surgem bonequinhas de carne e osso, figuras que misturam fantasia, memória e ancestralidade. O sonho não rompe com a realidade, mas a amplia, criando uma experiência sensorial em que passado e presente dialogam de forma sutil.

Sem recorrer a longos diálogos, o curta aposta no silêncio, na força simbólica das imagens e na sensibilidade do olhar, apresentando Ayo como um elo entre gerações. A obra convida o público a reconhecer que brincar também é uma forma de resistência e que sonhar pode ser um caminho para manter viva a memória.

A história que ecoa nas escolas e pontos de cultura

A narrativa de Ayo já é contada em escolas e pontos de cultura da região. Em “Ayo – A Bonequinha de Esperança”, texto assinado por Fernanda Vieira, a história se passa numa noite de lua cheia em São José do Queimado, quando uma estrela cadente cai próxima ao quilombo. Do encontro entre aquele brilho e retalhos de pano nasce Ayo, cujo nome, de origem iorubá, significa “alegria”.

Mais do que uma boneca, Ayo carrega sonhos, esperança e a promessa de liberdade. Cada bonequinha costurada representa não apenas pano e linha, mas magia, afeto e resistência — símbolos que agora ganham forma também no cinema.

Leia também