Quadrilha oferecia até “curso para treinar criminosos”, segundo investigação; especialista explica sinais de alerta e cuidados essenciais
O golpe do falso advogado voltou a acender o sinal de alerta no Espírito Santo. Na última terça-feira (09), a Polícia Civil divulgou detalhes de uma investigação que revelou a atuação de uma quadrilha especializada nesse tipo de crime, que chegou a oferecer até um “curso” para treinar criminosos na prática da fraude. O esquema já causou prejuízos significativos às vítimas, com perdas que chegam a R$ 10 mil em um único caso.
De acordo com as informações apuradas pela polícia e divulgadas pela imprensa, os golpistas utilizavam fotos reais de advogados para dar aparência de legitimidade às abordagens. Em contato com as vítimas, geralmente por WhatsApp, afirmavam que o profissional havia mudado de número e informavam que a pessoa teria vencido uma causa judicial. Para a suposta liberação dos valores, exigiam o pagamento antecipado de taxas ou custas inexistentes.
Para a advogada e professora Direito, Aline Vasconcellos do Valle, o sucesso desse tipo de golpe está diretamente ligado ao desconhecimento da população sobre o funcionamento do sistema judiciário e ao avanço das chamadas técnicas de engenharia social.
“Não é comum que advogados utilizem canais informais, como o WhatsApp, para solicitar depósitos urgentes e antecipados com o objetivo de liberar valores já reconhecidos em juízo. Esse tipo de abordagem não é compatível com a praxe profissional idônea e deve acender um alerta imediato no cliente”, afirma.
A docente ressalta ainda que decisões judiciais não são comunicadas por mensagens instantâneas, mas sim por meio de registros oficiais nos sistemas dos tribunais.
“Sempre que houver dúvida, a pessoa deve consultar a movimentação processual diretamente no site do tribunal ou entrar em contato com o advogado pelo número já conhecido. Mudanças repentinas de contato, especialmente acompanhadas de pedidos de pagamento, são indícios claros de fraude”, explica.
Segundo Aline Vasconcellos do Valle, algumas medidas simples podem evitar grandes prejuízos financeiros. Entre as principais orientações estão:
Consultar a movimentação processual diretamente no site oficial do tribunal, sempre com o número do processo em mãos;
Entrar em contato com o advogado ou escritório apenas pelos canais já conhecidos, como telefone ou e-mail informados no contrato de prestação de serviços advocatícios;
Desconfiar de mudanças repentinas de número ou contato, sobretudo quando acompanhadas de pedidos de transferência ou pagamento antecipado.
A professora também destaca a importância de os escritórios de advocacia adotarem medidas preventivas. “Diante da crescente incidência desse tipo de crime, é recomendável que os contratos de serviços advocatícios tenham cláusulas específicas indicando os únicos meios de contato oficiais do escritório, além de orientar claramente os clientes sobre a existência desses golpes”, pontua.
Por fim, Aline alerta que a promessa de liberação rápida de valores costuma explorar o lado emocional das vítimas.
“O criminoso cria uma sensação de urgência para impedir a verificação das informações. Sempre que possível, é fundamental parar, questionar e confirmar. Essa atitude simples pode evitar prejuízos financeiros significativos”, conclui.