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ARTIGO – Bem-Estar na Maturidade

Longevidade e qualidade de vida: um olhar da psicologia sobre o envelhecer

O aumento da expectativa de vida tem provocado uma reflexão cada vez mais profunda sobre o sentido de envelhecer. Se antes a longevidade era vista apenas como um dado biológico, hoje ela é compreendida pela psicologia como um fenômeno multifacetado, que envolve corpo, mente, vínculos sociais e, sobretudo, a forma como cada pessoa constrói sua relação com o próprio tempo. Envelhecer com qualidade de vida não significa apenas prolongar anos, mas viver de maneira plena, consciente e integrada às diferentes dimensões da existência.

Na perspectiva psicológica, a maneira como lidamos com o envelhecimento é determinante para o bem-estar. As mudanças físicas são reais, mas são as atitudes emocionais que definem como cada pessoa atravessa essa fase. A maturidade traz consigo transformações hormonais, redução natural do ritmo metabólico e maior propensão a algumas doenças. Porém, é o modo de interpretar essas mudanças,  como perdas inevitáveis ou como um novo ciclo de possibilidades, que diferencia um envelhecer limitado de um envelhecer ativo.

A psicologia aponta que a saúde mental é um dos pilares mais importantes da longevidade. A manutenção da cognição, da autoestima e da motivação depende, em grande parte, do estímulo contínuo às funções cerebrais. Atividades que desafiam o pensamento, como leitura, arte, estudo, jogos estratégicos e novas aprendizagens, atuam como proteção contra o declínio cognitivo e fortalecem a sensação de autonomia. Ao mesmo tempo, o cuidado com as emoções, por meio da terapia e do autoconhecimento, ajuda a elaborar lutos, ressignificar experiências e construir novas narrativas para a própria história.

As relações sociais também têm papel essencial. O ser humano é, por natureza, um ser relacional, e a solidão prolongada pode ser tão prejudicial quanto qualquer doença física. O convívio com a família, amigos, grupos de interesse e comunidades de apoio favorece a troca afetiva, a sensação de pertencimento e o fortalecimento da identidade. Vínculos saudáveis funcionam como proteção emocional e ampliam o repertório de experiências significativas.

Outro ponto fundamental é o estilo de vida. A psicologia reconhece que corpo e mente não podem ser separados: quando o corpo se movimenta, a mente também se fortalece. A prática regular de atividade física libera neurotransmissores relacionados ao prazer e ao bem-estar, reduzindo sintomas de ansiedade e depressão, aumentando a disposição e promovendo maior estabilidade emocional. Da mesma forma, uma alimentação equilibrada contribui para o funcionamento adequado do sistema nervoso e para a regulação das emoções, mostrando que escolhas cotidianas influenciam diretamente o estado psicológico.

Por fim, envelhecer com qualidade é cultivar propósito. Pessoas que mantêm objetivos, sonhos e interesse genuíno pela vida tendem a viver melhor e mais felizes. Propósito não está necessariamente ligado ao trabalho, mas à sensação de que se tem algo a oferecer, aprender ou construir a cada dia.

A psicologia nos mostra que a longevidade é, acima de tudo, um processo de desenvolvimento humano contínuo. É a oportunidade de aprofundar a relação consigo mesmo, fortalecer vínculos, cuidar da saúde emocional e acolher o próprio corpo com respeito. Quando cada etapa da vida é vivida com presença e significado, o envelhecer deixa de ser um desafio e se torna uma jornada rica, potente e cheia de possibilidades.


Luciene Costa é psicóloga clínica, pós-graduada em Psicanálise, jornalista e especialista em bem-estar e qualidade de vida.

@luciene_costa_57   –  @revistaekletica 

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