Saúde

Saúde mental no trabalho exige mais que remédios

Especialistas alertam que o uso crescente de psicofármacos por profissionais brasileiros precisa ser acompanhado de mudanças no ambiente corporativo e apoio psicológico contínuo

O aumento do consumo de medicamentos para lidar com ansiedade, estresse e burnout entre trabalhadores brasileiros acendeu um sinal de alerta. Uma pesquisa recente revelou que mais da metade dos profissionais, incluindo lideranças, já recorre a psicofármacos como forma de enfrentar as pressões do mercado de trabalho. O dado reflete uma realidade que ultrapassa o campo da saúde individual e convida à reflexão sobre a cultura corporativa e seus impactos na vida emocional das pessoas.

O neurologista da Unimed Sul Capixaba, Marcos Paulo Travaglia, ressalta que a medicalização deve ser avaliada com cautela. Segundo ele, os remédios podem ser necessários em determinados casos, mas não devem ser vistos como a única resposta ao sofrimento psíquico.

“É preciso compreender que muitos sintomas têm origem na forma como o trabalho está organizado. Sem mudanças estruturais, a medicação corre o risco de apenas silenciar sinais importantes, enquanto as causas permanecem”, alerta o médico.

Desde 2020, a Unimed Sul Capixaba mantém o Núcleo de Assistência Integrada ao Colaborador (Naice), que oferece acolhimento emocional, ações itinerantes nos setores, momentos de reflexão e transmissões ao vivo com especialistas. A iniciativa reforça o compromisso da cooperativa com a humanização e a qualidade de vida no ambiente profissional.

Para a psicóloga Flávia Moreira, também da Unimed Sul Capixaba, o cuidado integral com a saúde mental começa dentro das empresas, com iniciativas que valorizem o diálogo e o apoio emocional.

“Mais do que oferecer um plano de saúde, é importante criar espaços de escuta, implementar programas de apoio psicológico e incentivar práticas de bem-estar. Quando o trabalhador encontra suporte emocional, ele se sente parte de uma rede e não fica refém do medicamento como único recurso”, destaca.

Os dados do levantamento mostram ainda um movimento preocupante: o aumento das licenças médicas por transtornos mentais. O cenário reforça que a saúde emocional já é uma questão de produtividade e sustentabilidade nas organizações. Políticas corporativas mais humanas, capazes de equilibrar resultados e bem-estar, tornam-se essenciais para o futuro do trabalho.

O cuidado com a mente, portanto, deve ser coletivo — envolvendo profissionais, equipes e gestores. Para Travaglia, a prevenção precisa integrar corpo e mente, enquanto Flávia reforça que terapia, empatia e diálogo são ferramentas indispensáveis para reduzir o sofrimento.
O grande desafio, concluem os especialistas, é transformar o ambiente de trabalho em um espaço de proteção, e não de adoecimento.

Leia também