Saúde

Lipedema: a doença que afeta milhões de mulheres e ainda é pouco conhecida

O lipedema é uma condição crônica, frequentemente confundida com obesidade ou simples acúmulo de gordura localizada, mas que possui características próprias e exige atenção médica especializada. Estima-se que milhões de mulheres no mundo convivam com o problema, muitas vezes sem diagnóstico adequado.

Segundo o angiologista e cirurgião vascular do Hospital Santa Rita, Carlos André Daher, a doença é marcada por um acúmulo desproporcional de gordura, principalmente nas pernas e, em alguns casos, nos braços. “O lipedema é observado com maior frequência em mulheres, especialmente em fases de maior influência hormonal, como puberdade, gravidez e menopausa. Hormônios como o estrogênio parecem ter papel importante na morfologia do tecido adiposo e no sistema vascular e linfático local”, explica o especialista.

Dr Carlos André Daher, angiologista e cirurgião vascular do Hospital Santa Rita

Os primeiros indícios da condição incluem ganho de peso localizado nas pernas – e, às vezes, nos braços – desproporcional ao restante do corpo, sensibilidade aumentada, dor ao toque, cansaço e hematomas frequentes. Estrias, parestesias ou sensação de calor local podem ocorrer. Um detalhe importante é que, mesmo com dieta e exercícios, as áreas afetadas não apresentam melhora significativa, diferentemente de outras adiposidades. “O edema típico do lipedema não desaparece com repouso simples, e o tecido costuma ter um toque mais firme ou resistente”, acrescenta Daher.

O lipedema pode se apresentar em diferentes formas. Lipedema periférico (ou padrão) afeta principalmente membros inferiores, com aparência de mosaico de depósitos de gordura. Já o lipedema com envolvimento de membros superiores pode ocorrer, geralmente, com áreas de contorno mais marcadas. O lipedema com linfedema associado é caracterizado pelo comprometimento linfático adicional. “Vale ressaltar que a classificação pode variar entre fontes e o diagnóstico definitivo depende de avaliação clínica por profissional de saúde”, explica o médico.

Muitas pacientes enfrentam frustração ao perceber que mudanças no estilo de vida não reduzem a gordura do lipedema. De acordo com o especialista, isso ocorre porque “a gordura do lipedema tem uma arquitetura diferente, com alterações no tecido conjuntivo e, muitas vezes, fibrose suave, o que dificulta a mobilização apenas com treino ou dieta. Além disso, a drenagem linfática pode estar comprometida e fatores hormonais e genéticos ainda não totalmente compreendidos. Essas características tornam a resposta à dieta e aos exercícios menos previsível do que em adiposidades comuns.”

Não existe cura definitiva para o lipedema, mas há formas de amenizar os sintomas e melhorar a qualidade de vida. Em termos de manejo, há opções não cirúrgicas que podem ajudar a controlar sintomas, como fisioterapia e linfoterapia com técnicas de drenagem linfática manual, edemoterapia e exercícios de baixo impacto para melhorar a circulação e o conforto. O uso de máscaras de compressão adequadas e treino de ativação muscular também ajudam.

Além disso, de acordo com o cirurgião vascular do Hospital Santa Rita, é preciso controlar a dor, quando presente, com condutas terapêuticas apropriadas. “Educação sobre autocuidado, higiene da pele e prevenção de complicações são fundamentais também. Existem, ainda, os tratamentos cirúrgicos que podem incluir lipoplastia (lipedema lípica) ou cirurgia de remoção de tecido gorduroso em casos selecionados, geralmente após avaliação multidisciplinar. A cirurgia não cura a doença – costuma haver necessidade de acompanhamento e pode haver recidiva”, diz Carlos Daher.

“É muito importante ressaltar que não há cura definitiva conhecida. O objetivo é reduzir sintomas, melhorar o aspecto estético e a qualidade de vida do paciente. O manejo ideal é individualizado, com acompanhamento de cirurgião plástico, fisioterapeuta, médico endocrinologista ou vascular conforme a necessidade”, finaliza.

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