Traços como neuroticismo, extroversão e conscienciosidade têm relação direta com o adiamento do horário de dormir, principalmente entre os jovens adultos.
Um estudo recente publicado na revista científica Sleep reforça que a dificuldade em ir para a cama no horário adequado pode estar mais ligada à personalidade do que à simples falta de disciplina. A pesquisa investigou como características psicológicas individuais impactam o comportamento de procrastinar o sono — fenômeno cada vez mais comum, especialmente entre jovens adultos.
De acordo com a pneumologista e especialista em Medicina do Sono, Jessica Polese, o levantamento traz uma nova perspectiva sobre o tema. “Esse estudo nos ajuda a compreender que o hábito de adiar a hora de dormir pode ter raízes emocionais mais profundas”, afirma.
A pesquisa analisou 390 participantes, com idade média de 24 anos, durante 14 dias, utilizando diários e questionários para mapear padrões de sono e traços de personalidade. Os resultados revelaram que pessoas com alto grau de neuroticismo — tendência à instabilidade emocional e ansiedade — tendem a adiar mais o sono. Já aquelas com menor nível de conscienciosidade (organização e senso de responsabilidade) e extroversão também mostraram maior propensão ao comportamento.
“A procrastinação do sono vai além do simples uso excessivo do celular ou da televisão. É uma dificuldade real de desconectar-se, muitas vezes associada a emoções negativas ou estado de alerta constante”, explica a médica.
Jessica destaca que muitos participantes relataram sintomas próximos aos da depressão, como perda de interesse por atividades do dia a dia e pensamentos negativos frequentes. Esses fatores emocionais acabam perpetuando um ciclo de sono ruim, com consequências significativas. “O resultado é uma privação crônica de descanso, que afeta não só o desempenho no trabalho ou nos estudos, mas a saúde física e mental como um todo”, alerta.
Para a especialista, o tratamento da procrastinação do sono precisa ir além das orientações tradicionais de higiene do sono. “Não é apenas uma questão de rotina ou de evitar telas. Precisamos olhar para o estado emocional da pessoa. Se ela está ansiosa, frustrada ou deprimida, será muito mais difícil conseguir relaxar e dormir bem”, reforça.
O estudo aponta para a importância de abordagens integrativas na promoção do sono saudável, incluindo intervenções psicológicas que ajudem na regulação emocional. Compreender a personalidade de quem sofre com esse problema pode ser um caminho promissor para tratamentos mais eficazes e personalizados.