Cidade

Urbanismo e Segurança: Como Projetos Podem Reduzir a Violência Contra Mulheres

Como o Urbanismo Pode Impactar na Redução da Violência Urbana? O Instituto de Arquitetos do Brasil no ES Explica

Por muito tempo, a questão da segurança urbana foi abordada de forma pontual, com foco em policiamento e monitoramento. Porém, uma nova abordagem está ganhando força: o urbanismo feminista, que visa repensar o planejamento das cidades para torná-las mais seguras e inclusivas, especialmente para as mulheres. Em uma sociedade onde a violência urbana atinge milhões de pessoas, especialmente no espaço público, as cidades podem desempenhar um papel crucial na prevenção dessa violência.

O Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-ES), por meio de sua vice-presidente, Profª. Drª Luciene Pessotti, destaca como o urbanismo pode se tornar uma ferramenta eficaz na redução da violência. Para ela, os projetos de urbanização devem ser pensados como espaços de segurança para as mulheres durante suas vivências pelas cidades. “É preciso romper com as imposições de uma hierarquia cultural machista, que influencia a cultura. Pensar os espaços da cidade, as ruas, praças e os espaços da casa, com suas aberturas, janelas e locais de convivência, deve afirmar a experiência e o reconhecimento das diferenças, gerando segurança”, defende a arquiteta.

Os locais que mais despertam insegurança para as mulheres são, frequentemente, espaços públicos como praças, ruas e pontos de ônibus, onde a falta de iluminação e a ausência de movimento são fatores de risco. Muitas mulheres relatam o medo de caminhar à noite por esses ambientes desprotegidos e escuros, que se tornam áreas de risco devido à ausência de vigilância social. Além disso, calçadas mal planejadas ou inadequadas para o tráfego de carrinhos de bebê também dificultam a mobilidade e aumentam a sensação de insegurança.

No cenário internacional, diversos projetos têm se mostrado eficientes na criação de ambientes urbanos mais seguros para as mulheres. Um exemplo importante vem de Viena, na Áustria, onde, na década de 1990, foi construído o maior projeto habitacional da Europa voltado para mulheres. O conceito de “vigilância passiva”, presente neste projeto, consiste em edifícios com varandas e janelas voltadas para a rua, garantindo que as mulheres possam caminhar sem passar por locais escuros e isolados. Dessa forma, a visibilidade é ampliada, criando um ambiente onde todos podem observar o que acontece nas ruas e reduzir a possibilidade de crimes.

Outro exemplo de sucesso vem da Cidade do México, onde foi implementado o programa “Caminhos Seguros”. Com foco na melhoria da infraestrutura urbana, o projeto aumentou a iluminação pública, instalou câmeras de vigilância, botões de emergência e fez melhorias na limpeza das áreas públicas. Mais de 500 km de “caminhos seguros” foram criados, e a instalação de mais de 11 mil botões de alerta e 65 mil câmeras de segurança ajudou a reduzir a criminalidade e aumentar o uso dos espaços públicos.

No Brasil, a realidade das grandes cidades também exige atenção especial. Na Grande Vitória, que registra altos índices de violência contra as mulheres, o urbanismo precisa ser repensado de forma urgente. A arquiteta Luciene Pessotti ressalta que iniciativas como o “Programa Não é Não – todos os dias em todos os lugares”, criado pelo Governo do Estado do Espírito Santo, são passos importantes na conscientização sobre a insegurança nos espaços urbanos. O programa defende que todos os espaços podem ser inseguros para as mulheres e trabalha na promoção de um ambiente mais seguro em diferentes contextos urbanos.

Luciene Pessotti alerta que a insegurança nas cidades foi, por muito tempo, naturalizada, e é preciso mudar essa realidade com urgência. Ela defende a implementação de uma “alfabetização urbanística” para as novas gerações de profissionais, para que compreendam a importância de criar cidades mais seguras para as mulheres. A vice-presidente do IAB-ES afirma que é essencial que arquitetos e urbanistas levem em conta a segurança feminina como prioridade em seus projetos, especialmente em um momento em que as cidades brasileiras enfrentam crescente violência urbana.

A Organização das Nações Unidas (ONU) também tem se dedicado a criar cidades mais seguras para as mulheres desde 2011, com a ação global “Cidades Seguras”. O programa busca apoiar governos e organizações para tornar os espaços urbanos mais seguros, com um olhar focado nas necessidades das mulheres. Um estudo recente, realizado pela Universidade de Liverpool em colaboração com o PNUD, revela que as cidades não foram projetadas com a segurança das mulheres em mente, sendo necessárias ações concretas para melhorar a infraestrutura e a acessibilidade, além de combater problemas como o assédio sexual e a escassez de instalações adequadas.

O estudo destaca que 55% da população mundial vive em áreas urbanas, enquanto 50% dessa população é composta por mulheres e meninas. Por isso, é fundamental que as cidades sejam projetadas para oferecer segurança, acesso à saúde, educação e emprego, contribuindo para a construção de um futuro mais justo e seguro para todas.

Leia também