Nos idos de 985 o povo Norse decidiu colonizar a região que hoje conhecemos como Groenlândia. Fracassou. Por volta do ano 1400 bateu em retirada. Enquanto isso os Inuits, que por lá chegaram no ano 1000, vindos do norte do Alaska, resistiram e foram vitoriosos.
O sucesso de um povo e o fracasso do outro chamam a atenção. Afinal, os dois estavam perfeitamente adaptados aos rigores do clima local. Buscando esclarecer a questão, os pesquisadores Felix Riede e Mathilde Meyer, da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, conduziram um fascinante estudo, ao cabo do qual descobriram o fator decisivo: brinquedos!
Em uma prática que data de milênios, a humanidade utiliza brinquedos para ensinar as crianças sobre a sociedade na qual vivem – e eis aí um importante instrumento de educação, utilizado em uma fase crucial da formação dos seres humanos. Assim, as chances de sobrevivência de uma sociedade que presenteie corretamente suas crianças são sensivelmente maiores. Algo lógico.
E eis que os pesquisadores, através de escavações, resgataram dos dois centros de colonização todos os brinquedos que conseguiram. Encontraram nas aldeias Norse apenas 72 – contra 2.397 das Inuit. Além da diferença na quantidade chamou a atenção a disparidade na qualidade e variedade.
Vamos a um exemplo concreto: as crianças Inuit brincavam com objetos relacionados à pesca no mar gelado, enquanto as Norse com miniaturas de cavalos e pássaros. Assim, desde a mais tenra idade os Inuits iam se adaptando à realidade local, diversamente dos Norses.
Este padrão continuou – e tornou-se mais agudo – ao longo de séculos. Aos resultados: uma das civilizações conseguiu retirar das águas geladas seu sustento e florescer, enquanto que a outra foi definhando aos poucos até abandonar o local.
Agora vá à janela. Veja nossas crianças, a bordo de telas de computador, brincando de matar policiais, de atropelar pedestres, de promover faxinas étnicas, de estuprar mulheres, de matar para roubar etc. Todos esses jogos são vendidos a milhões de pimpolhos, praticamente sem controle algum. Ensinam, ao fim do cabo, a falta de compaixão – que já se faz sentir pelas ruas deste planeta. E em ritmo crescente.
Fica, diante das lições que esta pesquisa trouxe, uma pergunta: para onde estamos caminhando, enquanto humanidade?
Pedro Valls Feu Rosa é jornalista, escritor e desembargador no Espírito Santo