Pesquisa alerta para diagnóstico e tratamento adequado
Cerca de 2 milhões de brasileiros vivem com o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), uma condição que impacta diretamente a vida cotidiana das pessoas afetadas, prejudicando áreas como o desempenho escolar, profissional e até mesmo as relações pessoais. Os dados, divulgados pela Associação Brasileira de Déficit de Atenção (ABDA), destacam a crescente prevalência do transtorno, mas também alertam para a importância de um diagnóstico preciso e de tratamentos adequados.
O TDAH é um transtorno neurobiológico caracterizado por sintomas como desatenção, impulsividade e hiperatividade, que podem se manifestar de maneiras distintas. De acordo com especialistas, a condição pode se apresentar de três formas principais: o tipo hiperativo/impulsivo, o tipo desatento, e o tipo combinado, que engloba características dos dois anteriores.
A terapeuta ocupacional Carmeniza Vieira, especialista em análise do comportamento aplicado, destaca que, apesar do aumento no número de diagnósticos, é fundamental evitar a banalização do transtorno. “O diagnóstico de TDAH requer um olhar criterioso. Muitos comportamentos que são considerados normais, como falta de atenção momentânea, não devem ser confundidos com o transtorno. É importante distinguir essas diferenças para evitar diagnósticos precipitados”, alerta.
A especialista também observa que a maior conscientização sobre o transtorno, juntamente com fatores como a vida acelerada das famílias e a crescente exposição às telas, pode explicar o aumento dos casos diagnosticados. No entanto, ela ressalta que uma avaliação cuidadosa dos sintomas é essencial para garantir que as intervenções sejam as mais apropriadas. “Embora a sociedade esteja mais atenta ao TDAH, é crucial que os profissionais de saúde realizem uma avaliação detalhada para evitar tratamentos desnecessários que possam prejudicar o paciente a longo prazo”, explica Carmeniza.
Quando o diagnóstico de TDAH é confirmado, o tratamento deve ser abrangente e individualizado. A terapia ocupacional, a construção de rotinas estruturadas e a adoção de hábitos saudáveis são componentes essenciais para lidar com os desafios impostos pela condição. Carmeniza Vieira enfatiza que o uso de medicamentos psicoestimulantes, embora útil em muitos casos, não deve ser o único foco do tratamento.
“Os remédios são importantes para ajudar no controle dos sintomas, mas eles sozinhos não são suficientes. O tratamento eficaz deve incluir também abordagens psicossociais, como a terapia ocupacional, que ajuda a melhorar a organização e o planejamento, e a criação de um ambiente mais estruturado, que favoreça o desenvolvimento da pessoa”, explica.
Esse ponto de vista é respaldado por campanhas como a “Não à Medicalização da Vida”, promovida pelo Conselho Federal de Psicologia, que alerta para os perigos da medicalização excessiva de crianças e adolescentes. A campanha defende que o TDAH deve ser tratado de forma holística, com o envolvimento da família, da escola e dos profissionais de saúde, e com a adoção de uma abordagem integrativa que considere os aspectos psicológicos, sociais e educacionais da pessoa.
Apesar dos avanços no diagnóstico e no tratamento, o TDAH ainda enfrenta um grande desafio no que diz respeito ao estigma social. Muitas pessoas com TDAH são rotuladas de forma injusta, sendo vistas como distraídas, preguiçosas ou incapazes, o que pode levar a sentimentos de culpa, vergonha e baixa autoestima. Esse estigma social pode afetar negativamente a vida das pessoas com o transtorno e prejudicar o processo de inclusão e aceitação.
“O preconceito em relação ao TDAH ainda é muito presente na sociedade. Muitas vezes, as pessoas que convivem com o transtorno enfrentam discriminação, o que pode agravar os sintomas e dificultar o processo de tratamento. Por isso, é importante que haja uma conscientização contínua para desmistificar o transtorno e combater a ideia de que ele é um simples ‘descontrole’”, explica Carmeniza.
Ela reforça a necessidade de programas de educação e conscientização para promover uma visão mais compreensiva do TDAH. Para isso, a colaboração de escolas, médicos e familiares é fundamental para garantir que as crianças e os adolescentes com o transtorno tenham um ambiente acolhedor e adequado ao seu desenvolvimento.
Com 2 milhões de brasileiros afetados pelo TDAH, é urgente que o país implemente estratégias mais eficazes e integradas para lidar com o transtorno. O diagnóstico correto, o tratamento adequado e a conscientização social são fundamentais para melhorar a qualidade de vida das pessoas com TDAH, garantindo que elas possam alcançar seu pleno potencial, sem os obstáculos impostos pelo estigma e pela falta de suporte.