As obras de restauro e readequação do mais importante espaço cultural do Estado, o Theatro Carlos Gomes, começaram no mês de maio. O projeto está sendo realizado por meio da Iniciativa Resgatando a História, com recursos do BNDES e da EDP, e contempla intervenções nas instalações civis, cenotécnicas e de acessibilidade, dentre outras, e prevê melhorias estéticas e de uso. O tempo previsto para as obras é de dois anos e meio e o valor a ser investido é de R$ 20 milhões, sendo R$ 10 milhões provenientes do BNDES e R$ 10 milhões da EDP.
De acordo com o secretário de Estado da Cultura, Fabricio Noronha, o projeto não apenas revitalizará o monumento, como agregará nova dinâmica a ele. “O Theatro Carlos Gomes é um dos nossos mais importantes patrimônios, com quase um século de existência. Ela é a história viva. Peça fundamental na vida cultural do Espírito Santo, foi palco de incontáveis eventos que marcaram o tempo. Mais que restaurar e modernizar seu espaço, promovendo acessibilidade plena, as obras vão proporcionar nova dinâmica ao Carlos Gomes. A instalação do café no foyer, por exemplo, que funcionará para além do horário das apresentações, vai conferir à cidade outros modos de interagir com o teatro”, ressalta.
Para Erika Kunkel, presidente do Instituto Modus Vivendi, organização responsável pela obra, a recuperação física do Theatro se traduzirá em sua retomada à cena cultural do Espírito Santo. “O Carlos Gomes reúne histórias que estão guardadas na memória dos capixabas. Por aqui passaram grandes estrelas do cenário artístico. Agora, estes momentos tão necessários a todos nós retornarão a partir de um projeto que preservará as suas caraterísticas originais, mas também o dotará de equipamentos e serviços modernos e sustentáveis para que a sociedade e a classe artística revivam os tempos de glória da casa, em grande estilo. O Theatro voltará a ser o grande palco da cultura no Estado”, afirma.
O BNDES, um dos mais importantes financiadores do projeto de restauro e readequação do teatro, investiu, nos últimos 25 anos, mais de R$ 900 milhões em iniciativas de restauro, preservação e revitalização de 400 monumentos, sítios, edificações históricas e bens móveis de valor nacional, localizados em todas as regiões do país.
Uma trajetória de apoio que ganhou importante reforço com o lançamento, pelo BNDES, da Iniciativa Resgatando a História. Segundo Ana Costa, superintendente da Área de Desenvolvimento Social e Gestão Pública do BNDES, a ação une o aporte financeiro do setor público e da iniciativa privada para a recuperação do patrimônio histórico e do acervo memorial brasileiro.
“O Resgatando a História é uma iniciativa pioneira que soma investimentos públicos e privados para uma atuação mais ampla, coordenada e estratégica no apoio ao patrimônio histórico brasileiro, com benefícios para a economia local, a atividade turística e o desenvolvimento sustentável. O Theatro Carlos Gomes foi um dos projetos selecionados e é um orgulho o BNDES fazer parte, junto com a EDP, do esforço para reabertura do mais antigo e importante teatro do Espírito Santo”, ressalta.
Além do Theatro Carlos Gomes, também está sendo apoiado no âmbito da Iniciativa Resgatando a História, no Espírito Santo, o projeto de restauro e readequação do complexo do Patrimônio Jesuítico de Reis Magos, no município de Serra, e da Igreja Nossa Senhora da Ajuda, localizada no município de Viana.
Ambos os patrimônios históricos são tombados em âmbito federal e representantes da passagem dos jesuítas no Estado. Ao todo, 29 propostas foram selecionadas, com investimentos no valor global de até R$ 347,7 milhões, sendo R$ 292,2 milhões do BNDES e R$ 55,5 milhões dos cinco Parceiros Fundadores que fazem parte da Iniciativa Resgatando a História: Ambev Brasil, EDP Brasil, Instituto Cultural Vale, Instituto Neonergia e MRS Logística.
Já a EDP está investindo R$ 10 milhões na restauração do teatro por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. A empresa atua no Espírito Santo há mais de 30 anos como distribuidora de energia elétrica e figura nos melhores rankings de qualidade na atividade de distribuição no Brasil. A companhia está presente no dia a dia dos capixabas e também quer fazer parte do futuro do Estado, tanto por meio da prestação de um serviço de excelência quanto pela valorização do patrimônio histórico e cultural.
“Temos orgulho em poder contribuir com a restauração de um local icônico como o Theatro Carlos Gomes, em mais uma parceria da EDP com o BNDES e o Governo do Espírito Santo. Quando conhecemos o “Resgatando a História” não hesitamos em participar e apoiar projetos que priorizam o retorno à sociedade de locais que fazem parte da história. Esta iniciativa reforça o contínuo compromisso da EDP com a transformação da sociedade através da educação, seja via iniciativas de arte ou cultura, para as comunidades nas quais estamos inseridos”, afirma João Marques na Cruz, CEO da EDP Brasil. “O Instituto EDP existe há 15 anos e seus projetos já beneficiaram mais de 3 milhões de pessoas por meio de aproximadamente 450 programas espalhados por todo o Brasil”, ressalta o executivo.
Após passar por projetos e estudos técnicos, as obras para restauro e readequação do Theatro Carlos Gomes, inaugurado em janeiro de 1927 e fechado desde dezembro de 2017, serão realizadas por etapas. Elas começaram com a recuperação do telhado para proteção do monumento. Em seguida, terão início as obras civis e projetos complementares como climatização, novas instalações elétricas, instalação de equipamentos de segurança para prevenção e combate a incêndios e SPDA. Serão restaurados, ainda, os elementos arquitetônicos e ornamentais, bem como as pinturas artísticas e os lustres históricos. Este projeto seguirá o conceito do Instituto Modus Vivendi de preservar ao máximo a originalidade do monumento e a memória afetiva da sociedade em relação a ele.
Estão previstos, também, investimentos em modernos recursos tecnológicos, sonorização arrojada e um confortável e elegante café, que funcionará diariamente. As instalações receberão, ainda, novos camarins, salas administrativas e banheiros acessíveis, além de elevador para acesso a todos os andares do prédio. Destaque, ainda, para o restauro da antiga bilheteria do teatro. E importante: faz parte do projeto o estímulo às visitas guiadas de estudantes e outros públicos.
A história do Carlos Gomes remonta ao Teatro Melpômene, inaugurado em 1896. Com capacidade para 400 pessoas, foi considerado a maior e mais importante casa de espetáculos do Espírito Santo. Contudo, essa condição não o salvou de um princípio de incêndio, ocorrido durante uma sessão noturna.
Esse incidente deve ter estimulado os planos do então presidente de Estado, Florentino Avidos, implementados com o projeto de alargamento e ajardinamento da Praça Costa Pereira, aberta no ano do Centenário da Independência, após a demolição do Melpômene.
Nesse contexto de mudanças, o construtor e projetista André Carloni obteve auxílio do Governo do Estado, na forma de doação do terreno e empréstimo monetário, e da Prefeitura Municipal, na forma de isenção de imposto predial, para erguer o Theatro Carlos Gomes.
Projetado em 1925, foi construído entre 1925 e 1927. Em sua construção, modernamente executada com o uso de cimento armado, Carloni aproveitou peças retiradas da demolição do Melpômene, como as colunas de ferro fundido que sustentavam os camarotes. Estabeleceu-se desse modo, sem intenção explícita, uma relação de parentesco entre os dois teatros. Vendido ao Governo do Estado sob a administração de Punaro Bley, em 1934, o teatro passou a ter seu uso restrito quase exclusivamente ao cinema, sendo rara a encenação de peças teatrais.
Isso mudou somente no final da década de 1960, quando o teatro recebeu obras de restauro que incluíram a adequação do palco e do proscênio, permitindo a exibição de espetáculos teatrais; a transformação dos camarotes; a inserção de um lustre no centro do teto e a repintura dos painéis do teto, executada pelo pintor Homero Massena.
Essa intervenção resultou na reinauguração do teatro, em 1970, momento em que passou a integrar a Fundação Cultural do Espírito Santo. Em 1983, o Theatro Carlos Gomes foi tombado pelo Conselho Estadual de Cultura (CEC), mantendo-se ativo na apresentação de peças e espetáculos de música e dança.