Economia

Setores de café e rochas do Espírito Santo tentam sobreviver ao tarifaço dos EUA

Com a proximidade da entrada em vigor das novas tarifas de importação dos Estados Unidos, setores estratégicos da economia capixaba enfrentam um cenário de incerteza e prejuízo. O aumento de até 50% nas tarifas de produtos brasileiros, anunciado pelo governo de Donald Trump, afeta diretamente as exportações de café e rochas ornamentais, duas das principais forças econômicas do Espírito Santo.

Desde o anúncio das medidas, feito no dia 9 de julho, os produtores de café deixaram de vender cerca de 500 mil sacas para o mercado norte-americano. O Brasil é o maior fornecedor de café para os Estados Unidos, responsável por cerca de um terço do consumo americano e por movimentar mais de US$ 2 bilhões por ano. No entanto, países concorrentes como Vietnã, Colômbia e Etiópia foram contemplados com tarifas mais baixas, aumentando a competição no setor.

Sem conseguir exportar, produtores acumulam despesas com armazenagem e enfrentam o risco de perda da safra. As lideranças do setor negociam a inclusão do café em uma lista de isenção tarifária. Espírito Santo, São Paulo e Minas Gerais são os estados mais impactados pela nova política comercial norte-americana.

Para conter os danos, o governo do Espírito Santo estuda medidas emergenciais. Segundo o vice-governador Ricardo Ferraço, o objetivo é garantir a sobrevivência de pequenos produtores e empresas. “A contrapartida é a manutenção da atividade e do emprego para que possamos socorrer o micro e pequeno empresário, o produtor rural que depende desse mercado”, afirmou.

No setor de rochas ornamentais, as tarifas também atingiram em cheio as exportações capixabas. Peças de mármore e granito foram incluídas na tarifa máxima de 50%. Uma exceção foi feita para o quartzito, que ficou fora da lista de produtos sobretaxados, trazendo algum alívio para as empresas do setor. “Estão sendo retirados da taxação os materiais que não são produzidos nos Estados Unidos. Isso, obviamente, abre espaço para negociação em relação às demais rochas naturais que também não são produzidas lá”, explicou Ferraço.

Enquanto os impactos se acumulam, o governo federal atua em duas frentes: buscar isenções para mais produtos brasileiros e apoiar os setores mais afetados. O presidente Lula convocou uma reunião emergencial com ministros e o advogado-geral da União. O início da cobrança das novas tarifas foi adiado para o dia 6 de agosto, o que dá mais alguns dias para articulações.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, classificou a situação de alguns setores como “dramática”. “Há muita injustiça nas medidas anunciadas. Existem casos que deveriam ser corrigidos imediatamente. A prioridade será preservar os empregos aqui no Brasil”, declarou.

Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, cerca de 44% das exportações brasileiras para os EUA escaparam da nova tarifa. Entre os produtos que continuam com a tarifa anterior de 10% estão aviões, suco de laranja e minério de ferro. Outros 20% das exportações não foram afetadas por já estarem sob regimes tarifários específicos, como autopeças, aço e alumínio.

O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, afirmou que a diplomacia brasileira conseguiu retirar 45% dos produtos exportados pelo Brasil da lista de tarifas extras. “Foi uma negociação longa com o secretário de comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnik. Mas a negociação está apenas começando. Agora é hora de buscar alternativas de mercado e apoiar os setores mais atingidos”, declarou Alckmin.

Nos Estados Unidos, a legalidade do tarifaço também está sendo questionada. Pequenas empresas e representantes de 12 estados levaram o caso ao Tribunal de Apelações em Washington. Eles argumentam que o ex-presidente Trump utilizou de forma indevida a Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional, que sequer menciona a aplicação de tarifas. Uma das juízas ironizou: “Se o presidente diz que há um problema com os militares e, então, taxa o café, isso não parece resolver o problema.”

A decisão judicial pode levar semanas e chegar até à Suprema Corte. Enquanto isso, o governo norte-americano segue usando as tarifas como instrumento de pressão em negociações comerciais. O México, por exemplo, ganhou 90 dias adicionais para evitar uma tarifa de 30%, após conversa direta com a presidente mexicana. Já a Coreia do Sul conseguiu reduzir a tarifa de 25% para 15% por meio de acordo bilateral.

Em meio ao impasse, o presidente Lula afirmou em rede social: “Soberania é a autoridade que um povo tem sobre seu próprio destino. É a capacidade de um país decidir seus rumos, proteger seus recursos e defender seus interesses diante do mundo.”

A nova política comercial americana representa um desafio imediato à economia brasileira — especialmente para estados como o Espírito Santo, onde a dependência das exportações para os EUA é alta e a capacidade de reação do setor produtivo está sendo colocada à prova.

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