Iniciativas locais transformam histórias de pessoas que fugiram de crises humanitárias e encontraram no Estado uma nova chance de vida
Os deslocamentos forçados de milhões de pessoas ao redor do mundo compõem uma das maiores crises humanitárias da atualidade. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 122 milhões de pessoas estão fora de seus locais de origem, forçadas por guerras, perseguições ou violações de direitos. No Brasil, estima-se que mais de 700 mil refugiados buscam reconstruir suas vidas após deixarem países como Venezuela, Haiti, Afeganistão, Síria e Ucrânia.
Para lembrar e homenagear a coragem desses indivíduos, o Dia Mundial do Refugiado é celebrado em 20 de junho. A data reforça a importância de políticas de acolhimento e integração que respeitem a dignidade humana. Nesse sentido, o Espírito Santo tem se destacado como um estado que oferece oportunidades concretas para quem precisou recomeçar longe de casa.
Uma das ações de maior impacto é conduzida pela ONG Projeto Ninho, que desde 2020 atua com acolhimento e apoio à população refugiada e imigrante no Espírito Santo. Com foco na integração social e no acesso ao mercado de trabalho, a organização tem estabelecido parcerias fundamentais, como a firmada com a Kora Saúde/Rede Meridional.
O projeto “Inclusão Sem Fronteiras”, implantado pela Rede Meridional, já empregou 25 profissionais refugiados, a maioria de origem venezuelana, além de imigrantes de Cuba, Haiti, Guiné-Bissau e Colômbia. Esses profissionais atuam principalmente em funções administrativas e de apoio nos hospitais da rede.
Segundo Magda Costa, coordenadora de Recrutamento e Seleção Corporativo da Kora Saúde, os resultados do programa são expressivos. “Em menos de três meses, já tínhamos cinco refugiados atuando com sucesso. A diversidade fortalece nossas equipes, que hoje contam com profissionais bilíngues e uma rica troca cultural”, destaca. A iniciativa foi reconhecida nacionalmente, com a adesão da empresa ao Fórum Empresas com Refugiados, da ONU.
Uma das histórias que simbolizam essa transformação é a da venezuelana Imiry Del Valle Lemus Marín, de 50 anos. Ela trabalha atualmente como assistente financeira na sede da Rede Meridional, em Vitória. Imiry, o marido e os filhos deixaram a Venezuela há seis anos em busca de segurança e estabilidade. “Pertencemos a essa grande quantidade de venezuelanos que tiveram que sair por causa da ditadura. Pensamos primeiro na segurança dos nossos filhos”, contou.
Ela relata as dificuldades enfrentadas para conseguir uma colocação profissional, especialmente por conta da idade. Seu marido, formado em Informática pela Universidade Central da Venezuela, não conseguiu atuar na área no Brasil, apesar da vasta experiência. “Foi muito frustrante no começo, mas não perdemos a esperança.”
A virada veio quando participou de uma feira de empregos promovida pelo Projeto Ninho. “Já tinha quase desistido. Fiquei surpresa quando, em menos de 15 dias, surgiu uma entrevista. E assim entrei para a Kora Saúde”, lembra emocionada.
Hoje, ela se sente valorizada e reconhecida. “Desde que entrei, fui recebida com sorrisos. Aqui me sinto acolhida de verdade. Minha história foi compreendida, minhas necessidades respeitadas. Me sinto capixaba de alma.”
O Espírito Santo se firma, assim, como uma referência positiva no acolhimento de refugiados, graças a políticas públicas e iniciativas da sociedade civil que vão além da assistência básica e promovem inclusão, dignidade e cidadania. Em tempos de intolerância e fronteiras fechadas, histórias como a de Imiry mostram que a solidariedade ainda abre caminhos — e transforma vidas.