Os quilombolas escrevem e depois gravam suas cartas num processo de produção coletiva e compartilhada de resgate de memórias, afetos e de conexão comunitária.
Moradores de diferentes idades do Território Quilombola do Sapê do Norte, em Conceição da Barra, no Espírito Santo, se juntaram para contar, compartilhar e registrar em imagens e sons histórias inspiradas nas vivências numa comunidade quilombola. Depois das Comunidades Quilombolas de Porto de São Benedito, Porto Grande e Santana, agora é a vez do Cinema de Griô levar as experimentações audiovisuais para outras comunidades. A segunda oficina foi aberta nesta quarta-feira (26/07) e prosseguirá até sábado (29/07) na Comunidade Quilombola do Angelim II. A terceira oficina será realizada de 01 a 04/08 na Comunidade Quilombola Linharinho.
A primeira oficina realizada de 20 a 23/07 nas Comunidades Quilombolas de Porto de São Benedito, Porto Grande e Santana reuniu cerca de 50 pessoas. Os moradores acolheram o experimento de cinema de grupo proposto pelo projeto para resgatar memórias, paisagens, manifestações, versos, histórias e personalidades marcantes do território. Cada participante foi convidado a escrever uma carta direcionada a alguém que lhe trouxesse uma referência importante, seja familiar, religiosa, comunitária ou cultural.
Em um segundo momento, cada um leu o que escreveu. Ao mesmo tempo, os relatos eram gravados por membros do próprio grupo, criando uma rede de interação e conexão a partir das correspondências. Na etapa seguinte, os participantes saíram a campo para cada um escolher e registrar três cenas importantes do cotidiano relacionadas ao que escreveu. De volta ao grupo, todos compartilharam e comentaram o que sentiram e captaram em imagens e sons, ressaltando, especialmente, traços da cultura local como o Ticumbi, o Jongo e o Forró.
Os registros serão a base para a construção de um curta-metragem por oficina. Ao todo, o projeto resultará na produção de três filmes. Na etapa seguinte, as obras serão apresentadas em um telão de oito metros de altura por cinco de largura montado dentro das comunidades durante sessões gratuitas ao ar livre.
O Cinema de Griô tem por objetivo produzir os registros pelos próprios moradores, difundir os curtas em circuitos quilombolas, mostras, festivais, contribuir com a preservação e o intercâmbio de tradições, práticas, relatos e memórias das comunidades. A ação foi contemplada pelo edital (028/2021) – Seleção de Projetos Culturais Setoriais de Audiovisual no Estado do Espírito Santo. A realização é do Instituto Marlin Azul com recursos do Funcultura através da Secretaria da Cultura do Governo do Estado do Espírito Santo.
A ação nasce da inspiração de outro projeto, o Cine Quilombola, realizado em 2021, através da qual cada comunidade construiu seu filme-carta para dialogar com outras comunidades através de correspondências audiovisuais. O Cine Quilombola produziu os seguintes documentários: Do Lado de Cá, da Comunidade Quilombola de Graúna (Itapemirim); Vamos em Batalha, das Comunidades Quilombolas de Cacimbinha e Boa Esperança (Presidente Kennedy); Era Caminho Deles, da Comunidade Quilombola de Pedra Branca (Vargem Alta); Ninguém Canta Igual Eu Canto, da Comunidade Quilombola de Monte Alegre (Cachoeiro de Itapemirim).
Saiba mais sobre o Instituto Marlin Azul
O Instituto Marlin Azul é uma associação sem fins lucrativos criada em 1999 cuja finalidade é promover ações direcionadas à cultura, à arte e à educação, democratizando o acesso à produção e fruição de bens culturais. Em 24 anos de atividade, a instituição vem desenvolvendo diversos projetos sociais, culturais e audiovisuais voltados para diferentes públicos do Espírito Santo e do Brasil. Além do Cinema de Griô e do Cine Quilombola, a instituição desenvolve ações como o Revelando os Brasis, o Projeto Animação, o Curta Vitória a Minas, os Griôs de Goiabeiras e o Memória do Barro. Para conhecer os projetos, acesse institutomarlinazul.org.br.