IG da Panela de Barro de Goiabeiras está entre as Indicações Geográficas que participarão do evento. Além de artesãos brasileiros, o evento vai trazer experiências da América Latina e da Europa
Pela primeira vez, o Brasil vai debater os desafios e o potencial econômico das Indicações Geográficas (IGs) do segmento do artesanato, em um evento que reúne artesãos, especialistas, gestores e representantes de diversos países.
O Origens Brasileiras Artesanato – I Evento Internacional de Indicações Geográficas de Artesanato acontecerá nos dias 29 e 30 de junho, no Centro Sebrae de Referência do Artesanato Brasileiro (CRAB), no Rio de Janeiro. A iniciativa é do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
Na oportunidade, as 12 IGs brasileiras de artesanato estarão presentes, demonstrando a riqueza e a diversidade do segmento no país. Entre elas, uma IG capixaba, as panelas de barro de Goiabeiras. Berenicia Correa Nascimento é paneleira, e vai representar o Espírito Santo no evento.
“Saber que estamos saindo para falar sobre o nosso artesanato, que é a nossa cultura reconhecida com uma IG, uma tradição que existe há mais de 500 anos, é de uma importância muito grande. Estamos divulgando o nosso trabalho, que gostamos tanto de fazer, e o nosso estado. Estar nesse evento vai gerar uma valorização muito grande para as paneleiras, e isso só é possível graças ao Sebrae/ES. É um incentivo grande que estamos recebendo”, conta a paneleira.
O analista do Sebrae/ES Guilherme Pella atuará no evento como mediador do painel “Indicações Geográficas: a proteção das expressões culturais”. Para ele, “a indicação geográfica permite a valorização e proteção de produtos que possuem uma identidade cultural e territorial específica. Ela funciona como uma forma de reconhecimento e garantia de qualidade, ao mesmo tempo em que promove o desenvolvimento socioeconômico das comunidades envolvidas na produção artesanal, contribuindo para a preservação do conhecimento tradicional e das técnicas artesanais transmitidas ao longo das gerações”, explica.
Além das IGs brasileiras, o evento vai trazer também experiências da América e da Europa, como a presença da França, que é referência no assunto, e contará com os palestrantes Antoine Ginestet, Benjamin Moutet e Déborah Broquère; do Peru e da Colômbia, que debaterão a temática por meio de casos de sucesso; e do México, que apresentará o processo de transformação das marcas coletivas da Região de Michoacán (México), com Alfredo Rendón, especialista em Direito Intelectual.
Historia
Estudo de revalidação do registro do Ofício das Paneleiras de Goiabeiras é apresentado
O saber envolvido na fabricação artesanal de panelas de barro foi o primeiro bem cultural registrado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), como patrimônio imaterial no Livro de Registro dos Saberes, em 2002. Com o objetivo de complementar as informações contidas no Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC), que embasou o pedido de registro, foi realizado um estudo, entre janeiro de 2014 e abril de 2016, que resultou na Pesquisa de Revalidação do Registro do Ofício das Paneleiras de Goiabeiras (ES). O documento será apresentado pelo Iphan no Espírito Santo no Galpão das Paneleiras, no dia 14 de abril.
Além da apresentação do estudo, será lançada a versão curta metragem do vídeo “Saberes do Barro: o Ofício das Paneleiras em Goiabeiras”, produzido no âmbito da pesquisa.
O objetivo da ação é divulgar ao público geral e autoridades o Ofício das Paneleiras de Goiabeiras e a intenção do Iphan/ES em formar Conselho Gestor da Salvaguarda, composto por entidades parceiras, Iphan e detentores. A ideia é que o Conselho elabore e acompanhe o Plano de Salvaguarda a ser implementado com vistas a trabalhar elementos identificados na pesquisa como caros à continuidade do ofício em melhores condições aos detentores.
Ofício das Paneleiras
O processo de produção no bairro de Goiabeiras Velha, em Vitória, no Espírito Santo, emprega técnicas tradicionais e matérias-primas provenientes do meio natural. A atividade, eminentemente feminina, é tradicionalmente repassada pelas artesãs paneleiras, às suas filhas, netas, sobrinhas e vizinhas, no convívio doméstico e comunitário.
Apesar da urbanização e do adensamento populacional que envolveu o bairro de goiabeiras, fazer panelas de barro continua sendo um ofício familiar, doméstico e profundamente enraizado no cotidiano e no modo de ser da comunidade de Goiabeiras Velha. É o meio de vida de mais de 120 famílias nucleares, muitas das quais aparentadas entre si. Envolve um número crescente de executantes, atraídos pela demanda do produto, promovido pela indústria turística como elemento essencial do “prato típico capixaba”.
As panelas continuam sendo modeladas manualmente, com argila sempre da mesma procedência e com o auxílio de ferramentas rudimentares. Depois de secas ao sol, são polidas, queimadas a céu aberto e impermeabilizadas com tintura de tanino, quando ainda quentes. Sua simetria, a qualidade de seu acabamento e sua eficiência como artefato devem-se às peculiaridades do barro utilizado e ao conhecimento técnico e habilidade das paneleiras, praticantes desse saber há várias gerações. A técnica cerâmica utilizada é reconhecida por estudos arqueológicos como legado cultural Tupi-guarani e Una2, com maior número de elementos identificados com os desse último. O saber foi apropriado dos índios por colonos e descendentes de escravos africanos que vieram a ocupar a margem do manguezal, território historicamente identificado como um local onde se produziam panelas de barro.
informações: Iphan