De acordo com dados divulgados pelo Ministério Público do Trabalho da 15ª Região (MPT), o número de denúncias feitas sobre irregularidades nas políticas de segurança e saúde dentro das empresas cresceu 65%. Em 2022, chegou a 2.057 denúncias e, no ano passado, o número chegou a 3.397, referente às quase 600 cidades que são cobertas pelo ministério.
Quando este assunto é abordado sob a perspectiva de setores como o transporte rodoviário de cargas, outra questão é levantada: a saúde e a segurança dos motoristas nas estradas. Além da infraestrutura das rodovias federais e estaduais, os Pontos de Parada e Descanso (PPD) também entram em discussão.
Neste ano, a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), em conjunto a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), realizou um estudo que, segundo os dados apurados, mostra que 86% dos motoristas entrevistados consideram muito importante que esses pontos contenham chuveiros com água quente, assim como 78% entendem que lixeiras com recolhimento periódico são extremamente importantes para garantir a higiene e a saúde nos PPDs.
A pesquisa ainda faz um recorte específico para mulheres motoristas. Para 66% dessas mulheres é muito importante que a distância entre os banheiros masculinos e femininos seja maior, a fim de garantir a segurança dessas motoristas. Segundo 64%, é necessário que as vagas exclusivas para mulheres sejam mais próximas das estruturas e prédios, evitando a exposição desses indivíduos durante a noite.
Além da atenção às mulheres nas rodovias, é importante que campanhas de conscientização da saúde e da segurança da mulher no trabalho sejam também levadas às empresas. Para Ana Jarrouge, presidente executiva do SETCESP e idealizadora do Movimento Vez&Voz, trata-se de um grande desafio que o setor precisa enfrentar para ter maior capacidade de atração e retenção das mulheres, especialmente aquelas que desejam exercer a função de motorista profissional. “As condições dos locais de carregamento, descarregamento e descanso nas rodovias possuem pouco ou nenhuma estrutura adequada, nem para homens, quem dirá para mulheres”, comenta.
A busca por melhores condições de saúde e segurança das mulheres nas empresas é um trabalho a ser exercido por toda a sociedade. “Em primeiro lugar, é preciso minimamente seguir a legislação vigente, que já possui um arcabouço bastante completo e complexo em matéria de segurança e saúde do trabalho”, continua Ana.
O que as empresas de transporte vêm fazendo
Para Gislaine Zorzin, diretora administrativa da Zorzin Logística, esse olhar dentro da sua própria empresa é extremamente necessário: “Também sou mulher e represento 50% do quadro societário da empresa, ter esse olhar para com elas referente à saúde e segurança é mais do que obrigação para nós”, comenta.
As ações variam entre abordagem através de diálogos, planejamento de trajeto mais curto para as motoristas, construção de ambientes voltados às mulheres da empresa, além da associação junto aos movimentos que possuam o viés de auxiliar as mulheres dentro do transporte rodoviário de cargas.
“Além de tudo isso, creio que as empresas precisam se unir ao poder público, dando ideias e fomentando discussões. Temos hoje no nosso setor os Movimentos como o Vez&Voz, que auxiliam as empresas e também as mulheres com as questões de segurança e saúde do público feminino no transporte rodoviário de cargas. Sabemos que esse é um tema que preocupa não só as transportadoras e as profissionais, como também é uma questão governamental que está, cada vez mais, sendo debatida”, pontua a executiva.
Através desse compromisso, a Zorzin Logística conseguiu aumentar o número do quadro de motoristas mulheres. A executiva deseja que a empresa seja referência para outras empresas no acolhimento das mulheres em um local que preza pela responsabilidade acerca da saúde e segurança delas.
“Como sempre tivemos mulheres em nossas equipes de liderança e operacional, já temos essa cultura bem enraizada de como elas precisam ser tratadas e serão tratadas dentro da Zorzin. É muito gratificante para nós quando contratamos uma mulher, porque mostra que estamos conseguindo atingir metas de abrirmos espaço para elas, no quesito de equidade, oportunidade e muito mais”, finaliza Gislaine.