Outubro é rosa, e o mês que simboliza a luta contra o câncer de mama traz também um novo olhar sobre o tratamento da doença. Durante décadas, a conduta terapêutica seguiu um padrão: cirurgia, quimioterapia, radioterapia e hormonioterapia eram aplicadas de forma combinada à maioria das pacientes. Essa abordagem foi crucial para salvar milhões de vidas. No entanto, a ciência agora reconhece que o câncer de mama não é uma única doença — mas um conjunto de subtipos biológicos distintos, cada um com sua própria identidade, evolução e resposta aos tratamentos. É nesse contexto que desponta uma das maiores revoluções da oncologia contemporânea: a medicina personalizada.
Segundo o oncologista Loureno Cezana, do Hospital Santa Rita, o conceito de personalização terapêutica parte de uma premissa essencial: cada tumor é único, assim como cada paciente.
“Os avanços da genômica e da biologia molecular tornaram possível identificar as mutações genéticas que estimulam o crescimento tumoral. Hoje, não tratamos mais apenas ‘um câncer de mama’, mas um câncer luminal A, luminal B, HER2-positivo ou triplo-negativo, entre outros. Cada um exige uma abordagem específica, ajustada ao seu perfil biológico”, explica o médico.
Cezana destaca que os tumores HER2-positivos, antes considerados de alta agressividade, tiveram o tratamento transformado com as terapias-alvo, que hoje permitem controlar a doença e aumentar a sobrevida das pacientes. Nos tumores luminais, o uso combinado de tratamentos hormonais e novas terapias moleculares vem reduzindo a necessidade de quimioterapia e proporcionando resultados mais duradouros. Já no câncer de mama triplo-negativo, um dos mais desafiadores, o avanço das imunoterapias e das estratégias voltadas a alterações genéticas específicas vem abrindo novos caminhos de controle da doença.
Mas a personalização não se limita aos medicamentos. Ela também orienta o planejamento de cirurgias e radioterapias.
“Técnicas como a cirurgia conservadora, a radioterapia guiada por imagem e a reconstrução mamária imediata são escolhidas conforme as características do tumor e as preferências individuais da paciente”, acrescenta Cezana.
Outro campo que vem ganhando força é o uso da inteligência artificial e do big data na oncologia. O especialista explica que a análise integrada de grandes volumes de dados — como exames de imagem, biópsias, perfis genéticos e histórico clínico — permite identificar padrões e prever respostas terapêuticas com mais precisão.
“Essas tecnologias aproximam a medicina de uma prática mais exata, personalizada e menos invasiva”, afirma.
Para o oncologista, personalizar é também olhar para a mulher além do diagnóstico.
“Não se trata apenas de compreender o tumor, mas de entender a paciente que o enfrenta — suas condições físicas, emocionais e sociais. Personalizar é equilibrar eficácia, segurança e qualidade de vida”, destaca.
Apesar dos grandes avanços, o especialista alerta que ainda há desafios de acesso no Brasil.
“Os testes genômicos e terapias inovadoras ainda não estão disponíveis de forma equitativa. Para democratizar essa nova era da oncologia, é preciso investir em políticas públicas, diagnóstico molecular e capacitação de equipes multidisciplinares”, ressalta Cezana.
O futuro do tratamento do câncer de mama, segundo o médico, é e precisa ser personalizado.
“À medida que a ciência avança, o tratamento deixa de ser apenas o combate a um inimigo e passa a ser o entendimento profundo da doença e da pessoa que a enfrenta. Personalizar é unir precisão científica e sensibilidade humana. E é dessa combinação que nasce a verdadeira esperança contra o câncer de mama”, conclui.