Já na primeira cena, a escritora Bettina Winkler entrega o tom forte, intenso e misterioso do lançamento Estrada dos Refúgios. Ao perceber que a irmã do meio não está mais ao alcance de seus olhos, Bárbara sabe que a jovem precisa de ajuda. Durante a busca ao lado da mais nova, Ira, o que encontra é uma situação de abuso sexual, que evolui para agressões físicas e termina com a morte do abusador, Maurício.
Dali em diante, tudo o que acontece coloca em risco o disfarce do pai adotivo das três personagens, Bernard Gastrell, um ex-serial killer britânico, que naquela pequena e pacata cidade de interior se tornou “O Justiceiro”. Conforme outros assassinatos surgem na história, o leitor descobre que nem mesmo os laços de sangue seriam suficientes para proteger uma família como essa.
Ela se abaixou e virou o corpo inerte com dificuldade,
soltando a respiração pela boca.
Das costas do homem se projetava o enorme
pedaço de vidro que, há alguns minutos, estava na mão da sua irmã.
Ira se aproximou e falou em voz alta,
em um tom mais infantil que o seu habitual:
— Ele tá morto.
Estrada dos Refúgios, pg. 20
Neste suspense nacional, publicado pela Qualis Editora, a autora destaca a força e influência da cultura nordestina, mais especificamente da Bahia, estado onde nasceu e vive até hoje. “É importante e válido mostrar que histórias podem ser ambientadas em qualquer lugar e não somente ao utilizar características específicas, ditadas como regra ou que ajudam a construir alguns estereótipos”, afirma Bettina.
Ao apresentar elementos como a pracinha de chão de pedra, os caminhos de terra batida e até mesmo as jaquetas verde-cana, usadas por mototaxistas, a escritora tira do pedestal as obras de suspense estrangeiras, com cenários e características que não aproximam o enredo do leitor brasileiro.