O uso do cigarro eletrônico, também conhecido como vape, tem crescido de forma preocupante entre adolescentes e jovens adultos. Apesar de ser frequentemente comercializado com aparência moderna e aromas atrativos, seu consumo traz sérios riscos à saúde — não apenas pulmonar e cardiovascular, mas também à saúde bucal.
De acordo com a cirurgiã-dentista Dra. Andressa Hirle, os impactos do cigarro eletrônico vão muito além do que se imagina. “Estamos falando de prejuízos importantes, como aumento das cáries, doenças gengivais, mau hálito, manchas dentárias e, o mais grave, lesões que podem evoluir para um câncer de boca. Esses dispositivos não são inofensivos — pelo contrário, alteram as células da mucosa bucal de forma perigosa”, alerta.
A especialista explica que os líquidos utilizados nos vapes contêm nicotina, aromatizantes e outros componentes tóxicos, mesmo quando o produto é vendido como “sem nicotina”. “Não existe controle sobre o que realmente está sendo inalado. Essas substâncias agridem diretamente as células da boca e do sistema respiratório, podendo provocar doenças que começam com simples irritações, manchas e dores de garganta e evoluem para problemas respiratórios e cardiovasculares”, destaca.
Um dado alarmante é que o cigarro eletrônico pode equivaler a até 120 cigarros convencionais em termos de toxicidade. Além disso, a fumaça é mais densa, com maior potencial de prejudicar também os fumantes passivos — aqueles que convivem com quem utiliza o vape. “O risco é coletivo. Não é apenas quem fuma, mas todos ao redor estão expostos à toxicidade do produto”, acrescenta.
Além das questões de saúde, há um paradoxo estético. “Esses jovens se preocupam com a aparência, com o sorriso, fazem clareamentos… Mas usam vape, o que causa escurecimento dental, mau hálito e inflamação gengival. Não combina com o autocuidado que eles dizem buscar”, afirma.
Um levantamento recente mostrou um aumento de mais de 600% no uso de cigarros eletrônicos entre 2018 e 2023. O dado reforça a urgência de campanhas de prevenção e conscientização, principalmente dentro das escolas. “É cada vez mais comum encontrar adolescentes fumando nos banheiros escolares. Isso é um alerta sério. Estamos diante de um problema de saúde pública”, reforça.
Vale lembrar que o cigarro eletrônico é ilegal no Brasil. A Anvisa proíbe a importação, comercialização e propaganda do produto. “A legislação não reconhece a segurança desses dispositivos. Não se pode regulamentar algo que comprovadamente faz mal à saúde e cujo conteúdo é incerto”, explica a dentista.
Para a Dra. Andressa Hirle, o diálogo com os jovens é fundamental. “Pais, educadores e profissionais de saúde precisam estar atentos. Não é apenas uma moda passageira — é um vício que pode comprometer a qualidade de vida e provocar danos irreversíveis. A prevenção começa com informação e orientação dentro de casa e nas escolas.”